sexta-feira, 31 de maio de 2019

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT)

                                                119/?

À procura da VERDADE nos Evangelhos 

Evangelho segundo S. MATEUS – 15/?

– Jesus não abençoa nem louva o jejum dos discípulos de João nem o dos fariseus. (Mt 9,14-15) e furta-se airosamente, sub-repticiamente, à questão do não-jejum dos seus discípulos, “adaptando-se” à circunstância, pagando ironia com ironia: “Achais que os convidados de um casamento poderão estar de luto enquanto o noivo está com eles?” (Mt 9,15)
– Mas… mais milagres! Este Mateus, em milagres, leva a palma da capacidade inventiva! E é a menina morta que ressuscita…, a mulher doente há doze anos que fica curada…, os dois cegos que vêem…, o mudo possuído de um espírito mau que se põe a falar… (Mt 9,18-33)
Tudo parecendo muito… fácil: basta um gesto, uma palavra, um tocar na túnica… E nem assim os fariseus acreditaram nele: “É pelo poder do Diabo, príncipe dos espíritos maus, que Ele os expulsa.” (Mt 9,34)
Estes fariseus deveriam estar muito cegos, seriam de cabeça muito dura! Aliás, mais tarde, Cristo terá o à-vontade de lhes perguntar: “Então estará o reino de Satanás contra si próprio?” (Mt 12,26)
– É realmente estranho! De um ponto de vista escatológico, e mesmo bíblico, somos quase tentados a pensar que eles procederiam assim para serem o braço de Javé, segundo a mística do A.T., e levarem Cristo à morte, tornando-O o tal Redentor-sofredor, o Cordeiro Imolado, anunciado nas mesmas Escrituras… (Is 53) Mas custa acreditar em tal versão. Muito mais verosímil é considerar que nenhum daqueles milagres tenha acontecido e que os fariseus não viram motivos para mudarem a sua atitude, acreditarem que Jesus era o Messias prometido pelos profetas e se converterem.
–“Jesus ordenou-lhes (aos curados/ressuscitados): «Ninguém deve saber isto!» Eles porém, saindo dali, espalharam a notícia por toda aquela região.” (Mt 9,30-31)
– De novo! Porque quereria Jesus que não se soubesse? Ou estaria brincando com eles? Não era para que todos pudessem ouvir e aceitar a sua mensagem que Jesus fazia os milagres?
E, sendo Deus, não saberia que era inútil ordenar-lhes tal coisa, pois iriam espalhá-la por toda a região?
Enfim, pequenas, insignificantes perguntas - ou talvez não, por se tratar de Deus! - sem resposta. Incompreensível é que não se refiram os efeitos do espalhar de tal notícia. Mais incompreensível ainda a notícia de tantos milagres ter-se ficado ali pela região É que é muito pouco proveito para tanto “trabalho” divino…
–“Jesus percorria todas as cidades (…), anunciava a Boa Nova do Reino de Deus e curava toda a espécie de doenças e enfermidades.” (Mt 9,35)
– Quem, pela força de tantos milagres, não acreditaria nessa Boa Nova do Reino de Deus? Ou então, não percebiam mesmo que mensagem era aquela, nem onde, nem como, nem quando era aquele Reino! Se fôssemos nós que lá estivéssemos, teríamos compreendido? – As muitas dúvidas que se acumulam cada vez mais no nosso espírito, são uma triste resposta de desalento e de incompreensão profunda… E de profundíssima descrença nos relatos de Mateus e sua veracidade. Então, aquele final “curava toda a espécie de doenças e de enfermidades” parece-nos nitidamente fantasia e imaginação balanceada pela narrativa dos supostos milagres antes “acontecidos”…

sábado, 25 de maio de 2019

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 218/?


À procura da VERDADE nos Evangelhos

Evangelho segundo S. MATEUS – 14/?

– Toca a alma aquela frase: “O Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça.” (Mt 8,20)
Realmente, não há notícia de que tivesse casa e tanto Ele como os discípulos “viveriam de amigos”, o que não deixaria de levantar alguns problemas práticos. É que o corpo precisa de alimento e descanso e, apesar de Cristo ser Filho de Deus, certamente não andaria por ali a fazer sempre milagres, cada vez que quisessem comer, para que o alimento lhes caísse do Céu…
– A expressão “Filho do Homem”, dizem os comentaristas, significaria “Messias”. Então, Jesus assumiria aqui, pela primeira vez, ser o Messias, o Cristo, o Salvador enviado por Deus! Mas, claro, não passa de uma interpretação; obviamente, há várias outras em que o Messianismo supostamente assumido por Jesus não faz qualquer sentido…
– Também não sabemos se carregada de ironia se de simbolismo a frase: “Segue-me e deixa que os mortos enterrem os seus próprios mortos.” (Mt 8,22). Quem eram os “mortos” que iriam enterrar os outros? Os que não seguiam a Cristo? E o que é realmente seguir a Cristo: ali, fisicamente, indo atrás dele ou ouvir a sua mensagem de fraternidade universal e pô-la em prática?
– Agora, outro milagre! A cura do paralítico! “O que é mais fácil dizer: «Os teus pecados estão perdoados» ou dizer «Levanta-te e anda»? Pois fiquem sabendo que o Filho do Homem tem na Terra poder para perdoar os pecados. Então, disse ao paralítico: «Levanta-te, pega na tua enxerga e vai para casa.» Vendo aquilo, a multidão ficou com medo e louvou a Deus por ter dado tal poder aos Homens.” (Mt 9,5-8)
– Novamente o “Filho do Homem”! Jesus parece não abdicar da sua prerrogativa messiânica, prerrogativa de que talvez estivesse convencido. A reacção da multidão é que é frouxa: apenas medo e louvor. Então, não houve quem propagasse aos quatro ventos o extraordinário acontecimento?
Problema maior é o pecado e o perdoar os pecados… E equivaler o “perdoar” ao “levanta-te e caminha”... Afinal, o que é realmente o pecado? O que é ofender a Deus? O que é perdoar os pecados? Quem perdoa a quem? Pois, o mais lógico é que, havendo ofensa a um irmão, seja esse irmão a perdoar a ofensa. Mais ninguém! Deus não pode entrar em tal equação: pecador e ofendido – perdoado e perdoador.
– Mas, perante tal situação – se é que existiu e de tal modo! – também nós, se lá estivéssemos, teríamos tido medo e teríamos louvado a Deus. E, obviamente, teríamos perguntado a Jesus todas estas coisas que não entendemos. Será que Ele nos teria respondido de modo a não ficarmos com qualquer dúvida?
–“Aprendei pois o que significa: «Eu quero a misericórdia e não o sacrifício.» Porque Eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores.” (Mt 9,13)
– Cristo aqui “refugia”-se nas Escrituras (Oseias 6,6), explicando-as. Não se percebe muito bem é se o sacrifício é a imolação de vítimas de tanto agrado do A.T., no culto do Templo, se a aceitação do sofrimento e a prática do jejum e da abstinência em ordem à purificação…
Aliás, Oseias é uma pedrada no charco dos holocaustos permanentes em que se envolviam dezenas de sacerdotes que serviam e se serviam do Templo, com as inúmeras oferendas e sacrifícios a que obrigavam o povo: “Esses sacerdotes vivem do pecado do meu povo e querem que o povo continue a pecar.” (Os 4,8) Ah, grande Oseias, como tinhas razão! Mas quem te deu ouvidos?
O que é certo é que ser-se misericordioso é ser-se bom para com o seu semelhante; e – seja qual for o seu significado - a misericórdia agrada muito mais a Deus que o sacrifício; e fazer sacrifícios – e muito menos oferecer sacrifícios – parece não levar a parte alguma…
Concluiríamos, então, que quem for misericordioso terá um lugar no Céu… Pena é não sabermos - desculpem-nos a repetição - onde é esse Céu e se ele existe…

sexta-feira, 17 de maio de 2019

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 217/?


À procura da VERDADE nos Evangelhos

Evangelho segundo S. MATEUS – 13/?

– Não se entende é o milagre da expulsão dos demónios de dois homens: “Ao longe, andava a pastar uma vara de porcos e os demónios suplicavam: «Se nos expulsas, manda-nos para a vara de porcos.» Jesus disse: «Podeis ir.» Os demónios saíram e foram para os porcos. Então, os porcos puseram-se a correr pelo monte abaixo e afogaram-se no lago.” (Mt 8,30-32)
– Quem ouviu tal diálogo entre os demónios e Jesus para dele dar assim testemunho? Será histórico ou… pura invenção dos apóstolos ou da ainda recente tradição cristã, no tempo de Mateus?
Pior: parece totalmente descabido de senso, impróprio de um Jesus Cristo, “mandar” assim afogar os porcos de um qualquer, que certamente bom trabalho lhe tinham dado a criar. Que poderemos concluir de tão estranha narrativa e peripécia? Não desacredita Jesus em vez de corroborar o seu poder sobre os infernos, o que certamente seria a ideia de Mateus, ensinando as primeiras comunidades cristãs?
Aliás, o próprio Mateus refere que: “Então, toda a gente da cidade foi ter com Jesus (…) e pediram-Lhe para se ir embora daquela região.” (Mt 8,34)
Que frustração sentiria Jesus ao ouvir tal pedido? Não repensou a sua atitude? Não se arrependeu de ter enviado para os porcos os espíritos malignos - coisa impossível para um Deus? Não pediu desculpas, pelo menos, já que certamente não teria com que indemnizar o prejudicado?
A resposta a estas perguntas nunca a teremos… Só se Jesus viesse de novo à Terra… E, então, presenciando estes e tantos outros milagres, esqueceríamos o “desperdício” dos porcos, afogando-se, e exclamaríamos com a multidão, admirados: “Que homem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?” (Mt 8,27) Não é homem, não, mas Deus feito homem!
Infelizmente, Jesus não volta de novo! E o que fica de certo – se é que o “facto” foi facto – é que os da cidade pediram-Lhe para que se fosse embora, sendo incompreensível que Jesus, na sua suposta saga divina, tenha provocado tal desejo…

sexta-feira, 10 de maio de 2019

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 216/?


À procura da VERDADE nos Evangelhos

Evangelho segundo S. MATEUS – 12/?

– E logo outro milagre! Este, à distância! Também no instante da… PALAVRA! A cura do servo do oficial romano, que estava doente: “Nunca encontrei uma fé igual a esta em ninguém de Israel. (…) Muitos (pagãos) sentar-se-ão à mesa no Reino do Céu (…), enquanto os herdeiros do Reino serão lançados nas trevas exteriores onde haverá choro e ranger de dentes.” (Mt 8,5-12)
– Mais duas “chicotadas” no povo de Israel: a pouca fé e o serem lançados nas trevas… Pena é que não nos diga onde é o Reino e onde são as trevas…
E que símbolo ou imagem é essa do “choro e ranger de dentes”? Era para atemorizar o “povo de cabeça dura”? Como precisávamos de explicações, meu Deus, do teu filho Jesus Cristo! Como nos deixastes entregues às nossas angustiantes conjecturas! É que mesmo os “cabeça dura” - e sobretudo esses - precisam de compreender para aceitar e empenhar-se e… salvar-se! Não foi para nos salvar - “salvar o que estava perdido” (Mt 9,13) - que vieste, que desceste à Terra?
– Vieste! Desceste!... Lá estamos nós a falar partindo de pressupostos existentes, sem termos qualquer certeza… É que se vieste, vieste de algum lugar; se desceste, desceste lá de um cimo qualquer… Mas se és Deus, não desceste nem vieste de parte alguma, pois estiveste sempre connosco, sempre no meio de nós, sempre dentro de nós… sendo nosso “irmão” no corpo e na alma, filho de Deus como nós também o somos, como partículas divinas que fazem parte do TODO universal em que nos movemos…
Panteísmo? – Que seja! Tudo, Deus!… Sem dúvida, uma realidade muito mais consentânea com aquilo que sentimos e com o que pensamos… E que talvez o próprio Jesus Cristo o tenha querido exprimir, quando nos faz a Ele e a nós filhos do mesmo Pai que está nos Céus… E quando diz “Quem me vê a Mim, vê o Pai.”…
– Só uma última pergunta, com não pouca ironia: “Porque é que Jesus insiste em chamar «herdeiros do Reino» aos israelitas? Então, toda a outra humanidade já não é herdeira do Reino?”
– Mas há muitos outros milagres! Cura a sogra de Pedro que estava com febre… Cura muitas pessoas que estavam possuídas pelo demónio… Amaina a tempestade no mar… (Mt 8,14-27) E Mateus acrescenta: “Jesus, com a sua palavra, expulsou os espíritos e curou todos os doentes, para se cumprir o que fora dito pelo profeta Isaías: «Ele tomou as nossas enfermidades e carregou as nossas doenças.»”
– Parece forçada tal aplicação da “profecia”, mas é, sem dúvida, mais um esforço de Mateus para fazer a ponte entre o AT e Jesus Cristo. Mas o cristianismo, para ser coerente com o Deus de amor que apregoa, deveria rejeitar liminarmente o AT e o seu Deus sanguinário, ciumento e cruel, Javé, considerando Bíblia Sagrada apenas o NT.



sexta-feira, 3 de maio de 2019

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Novo Testamento (NT) - 215/?


À procura da VERDADE nos Evangelhos

Evangelho segundo S. MATEUS – 11/?

– E porque é que “É larga a porta e espaçoso o caminho que leva à perdição e são muitos os que entram por ela.”? (Mt 7,13) Será assim tão atractivo tal caminho ou é o mal mais fácil de praticar que o bem?
– Trágico! Trágico para o suposto projecto de Deus e do próprio Jesus Cristo é a sua afirmação: “Estreita é a porta e apertado o caminho que vai dar à vida eterna e são poucos os que o encontram.” (Mt 7,14) Trágico para o suposto projecto de Deus em relação ao Homem porque, sendo assim, haverá muito poucos que atingem a vida eterna. E, com tais palavras de JC, ficamos sem saber que caminhos seguir para alcançar tal vida, se é que ela existe…
–“Cuidado com os falsos profetas! (…) É pelos frutos que os conhecereis.” (Mt 7,15-20)
– Já no A.T., os falsos profetas eram temidos e denunciados pelos que se proclamavam de verdadeiros profetas. Nós, com estes “frutos” que são as nossas interrogações sobre a Bíblia e sua veracidade, que tipo de profetas seremos? Verdadeiros ou falsos? Profetas da esperança ou da… desgraça? O que é facto e certo é que apenas andamos à procura da Verdade, a Verdade da Vida Eterna. 
– As comparações que Jesus faz, quando ensina, encantam pela sua simplicidade. Realmente, todos deveriam entender a da “casa construída sobre rocha e a construída sobre a areia”. Mas… o que é isso de ouvir a palavra de Jesus e de pô-la em prática? (Mt 7,24-27)
– “A multidão estava admirada com os seus ensinamentos. (…) Ele ensinava como quem tem autoridade.” (Mt 7,28-29)
– Também nós ficamos admirados! Não sabemos é se a multidão teria percebido tão pouco como nós percebemos!… Ficariam eles com tantas interrogações como nós? Porque não questionaram? Ah, se lá pudéssemos ter estado!…
– E… eis a primeira narrativa de milagre! Espectacular como todos! No mesmo instante do gesto e da palavra! A cura do leproso: “Então, Jesus disse-lhe: «Não contes isto a ninguém. Vai mostrar-te ao sacerdote e oferece a Deus o sacrifício que Moisés ordenou, para ficarem a saber que estás curado.»” (Mt 8,4)
– Se o leproso tinha de se mostrar curado, para não ser repelido pela comunidade, porque não apregoar a toda a gente o milagre? Teria Jesus “temido” o resultado do seu próprio sucesso?… Não viriam todos os leprosos - e eram muitos naquela época - para serem curados? Como dizer a uns que sim e a outros que não? Que leproso não acreditaria nas capacidades de Cristo em curar, vendo o seu “irmão” ali limpinho da moléstia? E não dizia Cristo que bastava ter Fé?… Mas, mais uma vez, JC parece contradizer-se com o seu projecto de salvação com o “Não contes isto a ninguém”. Pelo contrário, deveria ter dito: “Vai, mostra-te, diz que fui eu, o ENVIADO DE DEUS PARA DAR A BOA NOVA DA SALVAÇÃO ETERNA, que te curei e curarei todos os que de mim se aproximarem.” E toda a gente se teria convertido e acreditado…
– Também não se entende o porquê do sacrifício que o leproso tem de oferecer a Deus, invocando-se a Lei mosaica… Impossibilidade ou temor de acabar de vez com as Escrituras? Ou… sabedoria “política” para não ser, logo de início, rejeitado pela esfera do poder?
Dos milagres e da sua veracidade, falaremos lá mais para diante.