Preâmbulo
3
Ainda antes do
texto
– Não sabemos, com total certeza, se Jesus
considerava “sagradas” e, portanto, intocáveis, porque de inspiração divina, as
Sagradas Escrituras. Por um lado, diz: “Não venho abolir as Escrituras mas
dar-lhes pleno cumprimento. “ (Mt 5,17) Por outro, corrige-as, não poucas
vezes, transformando, por exemplo, o “olho por olho, dente por dente” no amor
ao próximo - amigos e inimigos - impensável no A T: “Se amardes os vossos
amigos que merecimento tereis? Amai pois os vossos inimigos e tereis uma
recompensa no Céu!” (Mt 5,46; Lc 6,27-35) “O primeiro dos mandamentos é: amar a
Deus sobre todas as coisas; e o segundo é semelhante a este: amarás o teu
próximo como a ti mesmo.”
Enfim, cita Jesus não poucas vezes, as Escrituras, para em
parte fundamentar, em parte justificar a sua actuação. (Mt 11,10; 13,12-17;
15,8 e 19; 22,37-39; etc.) Os evangelistas, também. E é certamente no Evangelho
de S. Mateus que encontramos mais vezes citadas as Escrituras para tentar
“provar” que Jesus é o Messias anunciado. (Mt 1,23; 2,6-e 18; 3,3, 4,15-16;
8,17; 19,4-9; 26,31; etc.)
– Iniciando-nos na análise ao NT, lê-se na Introdução, e
ficamos perplexos perante a insanidade e a gratuitidade das afirmações:
“Através da sua palavra e acção, Jesus inaugurou a nova aliança ou, por outras
palavras, o Reino de Deus. (…) Em Jesus, Deus quer reunir toda a humanidade
como uma família. (…) Essa grande reunião, onde tudo é partilha e fraternidade
no amor, é o Reino de Deus que, semeado na História, vai crescendo até que se
torne realidade para todos.” (ibidem)
Realmente, olhando o que se passa à nossa volta, dois mil anos volvidos, nem aliança nem Reino de Deus se manifestam entre os Homens. E, se olharmos a História, então o cenário é muito pior! Então, o fracasso da iniciativa de Deus de enviar à Terra o seu Filho Salvador parece total!
– Também se afirma – o que é de estranhar num exegeta
comprometido: “Os Evangelhos (…) não são biografia ou História, mas sim um
anúncio para levar à fé em Jesus, isto é, ao compromisso de continuar a sua
obra, pela palavra e acção. (…) O Apocalipse de São João (…) apresenta Jesus
ressuscitado como Senhor da História e mostra como os cristãos, em tempo de
perseguição, devem anunciá-Lo e testemunhá-Lo sem medo, enfrentando até a
própria morte.” (ibidem)
E nós concluímos: Portanto, não sendo biografia nem
História, não merecem qualquer credibilidade acerca do que narram sobre a vida
e história de Jesus. No entanto, não é isto que pensa a Igreja nem o que manda
ensinar na catequese… Quanto a Jesus ser o Senhor da História, parece-nos cair
na tentação bíblica do Antigo Testamento, em que Javé-Deus é tão Senhor da
História que tudo comanda e dirige, desde os castigos infligidos aos judeus,
nas derrotas sofridas, como nas vitórias alcançadas, prémios pelo seu bom
comportamento diante do mesmo Javé-Deus. Mas sabemos que tais vitórias e
derrotas nada têm a ver com Javé: foram simplesmente ditadas pela História dos
povos intervenientes.
– Mais desconcertante ainda é o que o “nosso” comentador
acrescenta: “O Templo é sem dúvida o centro de Israel. (…) No Templo, habita o
Deus único, santo, puro, separado, perfeito. (…) O Homem torna-se tanto mais
puro quanto mais perto estiver de Deus. (…) Percebe-se, então, o poder dos
sacerdotes na sociedade judaica. (…) Essa autoridade dos sacerdotes sobre o
povo acaba por legitimar e reforçar o Templo que se torna não só o centro
religioso mas também o centro económico e político. (…) O Templo possui imensas
riquezas (o Tesouro) e toda a cúpula governamental age a partir daí (o
Sinédrio) (…). A religião torna-se instrumento de exploração e opressão do
povo.” (ibidem)
Exactamente! Tal como durante todo o Antigo Testamento! Por
isso, dissemos que aquele Javé-Deus que tudo ordenava, que ordenava todos
aqueles ritos de holocaustos e ofertas pelo pecado – aliás denunciados uma vez
pelo profeta (Os 4,8) – não passaria de invenção de sacerdotes e patriarcas que
assim legitimavam perante o povo, o seu poder, os seus abusos, as suas
exigências do dízimo e das primícias, tudo em nome e por ordem de Javé-Deus!
Ah, como viveram à sombra do Templo tantos e tantas, a coberto de Javé, santo
Deus!… E – espanto dos espantos! – já noutros contextos o dissemos – como
continuamos a ter como sagrados, de inspiração divina, tais textos que tal
defendem e em que tal baseiam a história “divina” de um povo!
Pior! Como continuamos a considerar tais textos como o
fundamento da nossa fé e da nossa vida eterna, pois foram essas Escrituras que
prepararam a vinda do Senhor, do Messias, de Jesus Cristo?! E… que O levaram à
morte!
Mas, sem perdermos a esperança de encontrar a VERDADE, vamos
então, à análise crítica dos Evangelhos!
Sem comentários:
Enviar um comentário