À procura da VERDADE nos
Evangelhos
Evangelho segundo S. MATEUS
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– Mateus pretende dar cunho inequivocamente histórico à
descendência de Jesus: “Assim, as gerações desde Abraão até David são quatorze;
de David até ao exílio na Babilónia, quatorze gerações; e do exílio na
Babilónia até ao Messias, quatorze gerações.” (Mt 1,17) Mas, parece totalmente
questionável esta precisão “quatorze”, como tendo alguma validade histórica. Seja
qual for o conceito de geração para Mateus, basta dizer que de Abrão (c.1900 aC)
a David (c.1000 aC) vão c. 900 anos e de David ao Exílio (580 aC) vão c.420.
–“A origem de Jesus, o Messias, foi assim: Maria, sua Mãe,
estava prometida em casamento a José e, antes de viverem juntos, Ela ficou
grávida pela acção do Espírito Santo. José, seu marido, era justo. Não queria
denunciar Maria e pensava em deixá-La, sem ninguém saber. Enquanto José pensava
nisso, o Anjo do Senhor apareceu-lhe em sonho e disse: «José, filho de David,
não tenhas medo de receber Maria como esposa, porque Ela concebeu pela acção do
Espírito Santo. Ela dará à luz um Filho, ao qual darás o nome de Jesus, pois
Ele vai salvar o seu povo dos seus pecados». Tudo isto aconteceu para se
cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: «Vede: a Virgem conceberá e
dará à luz um Filho. Ele será chamado Emanuel, que quer dizer: Deus está
connosco.»” (Mt 1,18-23)
– Singela, lírica, quase romântica, esta origem de Jesus
Cristo… A Virgem fica grávida do Espírito Santo e dá à luz, sem que José tenha
qualquer intervenção: “Quando acordou, José fez como o Anjo do Senhor havia mandado:
levou Maria para sua casa e, sem ter relações com Ela, Maria deu à luz um
Filho. E José deu-Lhe o nome de Jesus.” (Mt 1,24-25)
O problema é misturar-se o divino com o humano, em
fronteiras difusas. E, obviamente, estamos perante um milagre! O primeiro grande
milagre do Novo Testamento: nascido de uma Virgem, com a intervenção do
Espírito santo… Aqui, Mateus teve necessidade de apelar para as Escrituras. Mas
o passo referido nada prova, trocando deliberadamente o vocábulo “jovem” por
“virgem”. Veja-se: “Pois ficai sabendo que Javé vos dará um sinal: A jovem
concebeu e dará à luz um filho e chamá-lo-á Emanuel.” (Is 7,14).
Percebe-se que Mateus apele para o Javé das Escrituras. Mas
sabemos como os próprios autores “sagrados” O maltrataram e descredibilizaram,
tornando-O motor da história das guerras em que intervieram os israelitas e
povos vizinhos, quer como vencedores, quer como vencidos! E perdendo-se em
manifestações de iras, ódios e forças descomunais, afirmando o seu poder com
supostos milagres, quando faltavam forças para dominar o “inimigo”! Completamente
hipotecado a um povo, dito “eleito”, o povo de Israel…
Depois, quem era realmente aquele Anjo do Senhor que aparece
em sonhos a José? Real ou… inventado por Mateus, falando em sonhos como falaram
os anjos de Javé no Antigo Testamento? Tudo bem mais parece ser produto da
fértil imaginação criativa de Mateus. Se é que há anjos…
Outra “certeza” de Mateus: “Jesus é o Messias.” Mas a afirmação
é totalmente gratuita, sem que apresente qualquer prova credível… Nem se percebe
bem o que ele entenderia por Messias: libertador do povo de Israel, para a Terra,
do jugo romano ou… para o Céu?
Enfim, Mateus começa como irá continuar,
sem objectivos de veracidade histórica mas com intuitos claros de firmar na Fé
os aderentes à nova religião que, ora ali, se ia iniciando. E tais fins justificavam
todos os atropelos à História, substituída esta pela criatividade da fantasia.
Resta dizer que os evangelistas, sobretudo Lucas,
apresentarão Jesus, o Messias, como nascendo milagrosamente à moda dos deuses
solares antigos – deuses nascidos do conúbio de outros deuses com virgens
terrestres – para tentar convencer, assim, os crentes da sua origem divina.
Obviamente, uma falácia…
Está claro que nos vamos deparar, nesta análise do NT, sobretudo dos evangelhos, com o dilema de ter ou não, como historicamente verídicos, os factos narrados. É um grave problema que condicionará a nossa análise crítica. Mas vamos ver até que ponto conseguiremos destrinçar o histórico do claramente inventado pela fantasia dos evangelistas, para atingir os seus objectivos.
ResponderEliminarLembremos ainda que os judeus foram o povo que, até hoje, mais contribuiu para os avanços da Ciência e da civilização, estando no topo dos ganhadores de prémios Nobel, o que diz muito acerca da sua capacidade inventiva e criativa. Ora Jesus era judeu e os seus seguidores – mais divinizadores dele que historiadores – também…
Já nos referimos, aqui, à suposta virgindade de Maria narrada por Mateus. Tendo como facto histórico o ela ter dado à luz, indo já grávida para o casamento com José, sendo a fecundação pelo Espírito Santo uma clara fantasia, resta-nos a hipótese de ela ter sido violada, talvez por algum militar romano, em serviço, à época, na região da Galileia.
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