A história verosímil de Maria
e o que dela fizeram os criadores
do cristianismo
Maria, uma bela rapariga de Nazaré, na Galileia, terá
sido violada por algum soldado romano, já que Roma era o ocupante da Palestina,
naquele séc. I ac., e os ocupantes tinham os seus direitos sobre a população, incluindo
a satisfação das prementes necessidades fisiológicas do sexo. (Obviamente,
deixou de ser virgem naquele momento, mas Virgem continuaram a chamar-lhe,
traduzindo incorrectamente – já Mateus, 1-23, já os exegetas posteriores – o
versículo do profeta Isaías, 10, 7-14: “A jovem dará à luz…” por “A virgem dará
à luz…”)
Encontrando-se grávida e estando prometida em casamento,
o seu noivo de nome José– um cavalheiro, diga-se! – não a quis desrespeitar nem
vilipendiar e desposou-a mesmo assim. Nasceu Jesus, judeu esperto e pensando
estar destinado a mudar o mundo, passando-o da vilania, da tirania e da exploração
dos pobres, em que se encontrava, para a justiça e fraternidade universal,
apregoando que todos os homens são irmãos, porque todos filhos do mesmo Deus, não
havendo lugar nem a senhores nem a escravos. Pagou tal aventura e coragem com a
morte e morte de cruz, suplício normalmente aplicado pelos romanos ocupantes
aos revoltosos ou aos que não queriam pagar os impostos exigidos por César.
(Infelizmente, Jesus enganou-se: dois mil anos
passados, nem justiça nem fraternidade universal! Mas deu origem a uma
revolução cultural/temporal e a uma religião, tendo os fundadores – Paulo,
alguns discípulos e evangelistas – aproveitado as suas ideias revolucionárias
para o divinizarem, lhe chamarem o Messias, o Cristo ou Enviado de Deus, o
Salvador, o – que descaramento! – Filho de Deus, passando a chamar-se Jesus
Cristo ou JC.)
Depois, tendo ela acompanhado apenas discretamente a
vida de Jesus, pois ocupava-se em ir tendo outros filhos de José, fizeram-na a
Mãe de Deus e Mãe dos Homens, a Mãe da Igreja, a Mãe dando à luz no presépio,
já que não houve lugar na estalagem para ela…, a Mãe sofredora junto à cruz. Uma
figura sem dúvida simpática, facilmente criando emoções no coração dos crentes.
Assim, ao longo destes dois milénios, o seu culto foi
sempre dos mais acarinhados pelos seguidores dos três credos cristãos
(católicos, protestantes e ortodoxos). Cultos, obviamente, acompanhados de toda
a espécie de mitos e crendices, chegando-se a afirmar ter ela aparecido a
pastores, em grutas ou arbustos, gerando-se uma onda de santuários e de
peregrinações, tudo muito bem aproveitado pelo clero local para da crendice fazer
negócio e… “salvar as almas, através de Maria”!
Entretanto, os papas católicos (passar-se-á certamente
o mesmo com os outros…), sempre atentos aos bons negócios que a religião a que
presidem lhes possa proporcionar para encher os cofres do Vaticano, publicaram
dois dogmas: o da Assunção de Maria ao Céu em corpo e alma (Pio XII) e o dogma
da Imaculada Conceição (Pio IX). Dois dogmas (que, por sê-lo, não podem ser
questionados pelos crentes – viva a democracia!) que não fazem qualquer sentido
e que revelam quão grande é a incompetência e estultícia daqueles papas. É que
afirmar que alguém pode subir em corpo e alma para o Céu é tão disparatado como
pensar que o Céu é um lugar onde há casas e casinhas e corpos celestes para
alimentar com néctares divinos e onde anjos e santos cantam e dançam e servem a
Deus, Deus que está sentado no seu magnífico trono, numa parafernália de
matizes de luzes e sons todos divinos… (Que bonito! Mas que nonsense!) E para
haver uma imaculada concepção, isto é, Maria ter sido concebida sem pecado
original, no acto sexual entre Isabel e Zacarias, era preciso que tivesse
havido tal pecado. Ora, é óbvio que, não merecendo a Bíblia qualquer
credibilidade histórica em relação aos ditos primeiros pais da humanidade, Adão
e Eva, pelos quais teria vindo o pecado ao mundo – o dito pecado original – não
se pode dar qualquer credibilidade a tal invenção agostiniano-medievalesca de
pecado.
Hoje, a saga mariana está mais viva que nunca. Digamos
que, já por ser mãe, já por ser mãe de Jesus, tem toda a nossa simpatia. Mas
que as igrejas cristãs têm ultrapassado tudo o que seria razoável em relação ao
seu culto, por consensual e humano, não há dúvida. E em todas as igrejas há,
pelo menos, um altar com a imagem da Virgem; e imagens da Virgem, as mais
diversas e as mais originais, com os nomes também os mais diversos e originais,
há-as por todo o mundo cristão, assim como há muitos santuários a ela dedicados,
uns de renome mundial, como Fátima, Lurdes ou Guadalupe, outros – incontáveis!
– em muitos recantos, cimos de montes ou campinas, cada aldeia ou aglomerado
populacional orgulhando-se do seu, pontos convergentes de festas e romarias…
Tudo muito bonito! Tudo muito comovente! Tudo muito
humano, do ponto de vista emocional. Mas… tudo baseado em falsidades, mitos,
invenções, efabulações! E até se gosta! E até se reza! E até se canta!
Ah, linda Mãe Maria, o que fizeram de ti!...
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