À procura da
VERDADE no livro de JOEL
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- Diz-se na introdução: “Nada sabemos do tempo em
que viveu
o profeta Joel. (…) Mas uma expressão une o livro todo: o dia
de Javé, isto é, o juízo final.
(…) Deste modo, uma praga de
gafanhotos observada atentamente serviu a Joel para
anunciar o
juízo final.” (ibidem)
- A história do juízo final é uma daquelas histórias
cheias de
mistérios, logo, sujeitas a tantíssimas interpretações, o que
aconteceu ao longo destes dois mil anos de cristianismo. Que
veracidade se
conterá nela? Lembram-se do ditado medieval
popular “Aos mil chegarás mas dos
mil não passarás?” que se
transformou, no milénio findo, em “Aos dois mil
chegarás mas
dos dois mil não passarás?” Ora, estamos perante mais uma
invenção, fruto da imaginação de alguns homens, supostamente
iluminados ou
inspirados, a partir de um qualquer facto
catastrófico natural, homens que tudo
ignoravam acerca da Terra
e do Universo e da Vida que, de certeza – certeza baseada
na
lei científica das probabilidades – a haverá em abundância por
tempos e
espaços, tempos e espaços que nada nos garante que
não sejam eternos e infinitos.
Mas… vamos ler!
- “Ah! Que dia! De facto, o Dia de Javé está próximo
e vem como
devastação do Todo-poderoso. (…) Farei prodígios no Céu e na
Terra:
sangue, fogo e colunas de fumo. (…) Vou reunir todas as
nações do mundo, (…)
abrirei um processo contra elas, por causa
de Israel que é meu povo e minha
propriedade. (…) Ficareis
sabendo que Eu sou Javé, vosso Deus, que moro em
Sião, meu
santo monte. E Jerusalém será santa; os estrangeiros nunca mais
passarão por ela.” (Jl 1,15-3,17)
- Obviamente, tal não aconteceu: Jerusalém foi abandonada
logo
no ano 70, aquando da destruição do Templo pelos romanos e,
depois, ocupada
por muitos povos invasores, sendo palco de
sangrentos confrontos aquando das
cruzadas, na Idade Média.
Aquele inicial “De facto, o dia de Javé está próximo”
é uma
afirmação totalmente gratuita que o autor deveria ter
simplesmente
transformado em “De facto, parece que…” E a saga
limitativa de Javé-Israel
continua como antes, sem qualquer
universalismo que os cristãos pretendem dar à
Bíblia.
Comenta-se: “Com o julgamento, começa para o povo de
Deus
uma era paradisíaca, cheia de paz e prosperidade. Os últimos
inimigos
foram vencidos e a vida dos mártires inocentes foi
vingada. Doravante, o povo
terá a vida em plenitude, porque
Javé habitará para sempre no meio dele.” (ibidem)
- A confusão entre o real e o simbólico, presente
aliás em todos
os comentadores bíblicos de índole parcial cristã, permanece.
“Deus mora em Sião” significa que o “seu povo” cumpre a Lei
de Moisés? Porque isto
de se afirmar uma coisa e depois dizer
que é símbolo ou fantasia ou… poesia,
nada nos aproveita à
realidade que procuramos e que é a essência da vida! E, se
é
símbolo, caro comentador, que significa a vida paradisíaca, cheia
de paz e
prosperidade? Enfim, onde está a santidade de
Jerusalém? Nos seus templos? Na
sua desgraçada História?
Na morada de Javé, mais uma vez não real mas simbólica,
criação certamente da classe sacerdotal para incutir medo-veneração
ao
ignorante povo, levando-o a doar as primícias ao Templo,
sem protestar, mas com um sorriso nos lábios?
Enfim, o que dizer daquele “folclore” todo de
devastação, sangue,
fogo, fumo e muitas outras megalomanias “inventadas” pelo
autor
para criar um clima de terror e de medo à volta do suposto Juízo
Final?
Que seja um artifício literário, aceita-se. Que seja de
inspiração divina, não.
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