segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 152/?

À procura da VERDADE nos livros Proféticos

JEREMIAS 12/15

- “Assim diz Javé dos exércitos, o Deus de Israel: Mandarei 
buscar o meu servo Nabucodonosor, rei da Babilónia (…) Ele 
virá para atacar o Egipto: quem está destinado para morrer, morrerá 
(...) Ele deitará fogo aos templos dos deuses do Egipto (…) Castigarei 
os que moram no Egipto como castiguei Jerusalém (…)” (Jr 43-44)
- É espantoso! Nabucodonosor - o assassino, o cruel, o devastador, 
o incendiário que foi o braço de Javé para castigar Judá e destruir 
Jerusalém – ser o “servo de Javé”! Pôr Javé a chamar “seu servo” 
Nabucodonosor, é o resultado de ter a Bíblia feito Javé o motor da 
História que afinal não passa de uma História de Homens feita pelos 
Homens, com os Homens e para os Homens, com os seus momentos 
de glória e, infelizmente, não menos momentos de loucuras, guerras, 
atrocidades de toda a ordem, pondo a sua brilhante inteligência ao 
serviço dos mais baixos e cruéis instintos de destruição e malvadez. 
Nabucodonosor arrasa o Egipto e passa a fio da espada egípcios e 
judeus que ali se haviam refugiado. Ao profeta - ou a Javé?! - apenas 
interessa castigar os judeus que não ouviram o profeta que os 
mandara ficar na sua terra e obedecer ao rei da Babilónia. Mas os 
outros? Os egípcios que morreram? Que mal fizeram eles para 
merecerem tamanho castigo? Por seguirem outros deuses? Por não 
“obedecerem” às leis de Javé? Como obedecer se O não conheciam? 
Aliás, que pecado cometeram os judeus que fugiram para o Egipto 
para escaparem à espada de Nabucodonosor que já matava em Judá?
Acaso estas perguntas são sem sentido? Como quiséramos que fossem! 
Por isso, esperamos que não haja qualquer cristão - realmente 
cristão! – que invoque sobre nós a ira divina, à boa - boa?! - maneira 
bíblica, por tanto questionamos esta Bíblia onde assenta a sua Fé! Sua, 
porque a nossa já a perdemos, logo que começámos a questionar as 
(in)verdades ditas eternas por aqueles que as inventaram…
Por outro lado, questionar nunca foi, é ou será pecado. Talvez seja 
mesmo a única maneira de termos uma Fé esclarecida e não uma 
Fé de “carneiros”, acreditando porque os outros nos dizem que é 
assim, sem… o provarem com argumentos que não deixem dúvidas à 
nossa razão. É que nós somos pessoas e não autómatos ou bonecos 
articulados! Para que a Fé seja válida, tem de abarcar toda a 
pessoa - alma e sentimentos, emoção e razão - e não ser apenas 
uma “obediência cega” a uma tradição javista, bíblica, evangélica, 
eclesiástica ou outra, em que o magister-dixitismo é tudo. 
Não é verdade?
Depois, e ainda, repetimos que não viemos aqui à Bíblia para 
questioná-la de má fé ou por motivos escusos de um ateísmo 
primário, não! Viemos exactamente à procura da VERDADE que 
nos pudesse abrir as portas do céu que tanto desejamos, sem, no 
entanto, conseguirmos vislumbrar como lá chegar. Haverá alguém 
que no-lo possa mostrar sem que para isso tenhamos de 
“enterrar-nos” numa Fé cega e sem razão que lhe valha? – Talvez 
Jesus Cristo. Mas o bom e inefável Jesus, iremos questioná-Lo 
mais tarde…


segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 151/?

À procura da VERDADE nos livros Proféticos 

JEREMIAS 11/15

- “Então Jeremias disse a Sedecias: Assim diz Javé dos exércitos, 
o Deus de Israel: Se saíres da cidade para te entregares aos 
generais do rei da Babilónia, conservarás a vida. Se não te entregares… 
(…) No décimo mês do nono ano de Sedecias, rei de Judá, chegou a 
Jerusalém Nabucodonosor, rei da Babilónia (…) Sedecias, (…) e 
os seus soldados (…) tentaram fugir. (…) Mas o exército dos caldeus 
perseguiu-os (…) Prenderam o rei Sedecias (…) O rei da Babilónia 
mandou matar os filhos de Sedecias ali mesmo em Rebla, diante 
dos olhos de Sedecias; e mandou matar também os nobres de Judá. 
Em seguida, furou os olhos de Sedecias e algemou-o a fim de o levar 
para a Babilónia. “ (Jr 38-39)
- A crueldade é muita. Naqueles tempos, nestes tempos! Aquilo que 
um Homem é capaz de fazer a outro Homem que domina, ultrapassa 
tudo o que uma besta fera faz a outra que domina, quase sempre - ou 
sempre? - para dela apenas se alimentar. No Homem – oh que 
tristeza! – não: é apenas a fome de satisfazer a raiva, o furor, a vingança. 
Mas… não foi esta raiva, este furor, esta vingança alimentados pelo 
próprio Javé ao longo da Bíblia? Será necessário referir mais 
exemplos do que os inúmeros que fomos apresentando e 
dissecando e repudiando…, negando-nos a aceitar que tais 
sentimentos se possam atribuir a um Javé-Deus, sem um total 
abuso do seu Nome? É! Tudo se põe na boca de Javé: as tábuas 
da Lei e o ódio contra os inimigos; o perdão dos pecados e a terrível 
vingança, sequiosa de sangue; o repúdio pelos sacrifícios 
desnecessários e o saborear o suave odor dos holocaustos… 
Seria descabido afirmar que se Javé-Deus realmente existisse não 
teria permitido tal abuso? Não será este abusar de Javé por uma 
Bíblia que para cúmulo é a base da nossa Fé, uma prova de que 
Javé-Deus - Deus me perdoe!- não existiu, tendo sido pura 
invenção dos judeus da época, por conveniências essencialmente 
políticas?! Aliás, não foi por puras razões políticas que Maomé 
inventou o seu Alá e escreveu o Corão? 
(Disso, falaremos mais tarde).
- “Nós te suplicamos: intercede junto de Javé, teu Deus, por nós (…) 
Que Javé, teu Deus, nos mostre o caminho que devemos seguir e o 
que devemos fazer. O profeta Jeremias respondeu: De acordo. 
Vou interceder junto de Javé (…) Passados dez dias, a palavra de Javé 
foi dirigida a Jeremias (…): Se decidirdes ir para o Egipto (…) a 
espada que vos amedronta aqui irá alcançar-vos na terra do Egipto; 
a fome que vos assusta aqui seguirá os vossos passos no Egipto. 
Todos os homens que decidirem partir (…) morrerão pela espada, 
pela fome e pela peste, sem que seja possível escapar ou fugir da 
desgraça que Eu farei vir sobre eles.” (Jr 42)
- Também se comenta: “Devido aos acontecimentos em Judá, (…) os 
chefes temem represálias dos babilónicos e planeiam fugir para o 
Egipto. Antes disso consultam Jeremias (…) Jeremias é claro: o povo 
deve permanecer na sua terra, servindo o rei da Babilónia. Apesar do 
seu realismo político, mais uma vez o profeta não é ouvido.” (ibidem). 
Concluímos, pois, que o “nosso” exegeta parte do princípio de que não 
é Javé que fala mas Jeremias que expõe as suas ideias e convicções 
políticas. Mas…afinal, quando é que Javé falou realmente? Nunca? 
Foram sempre Homens que colocaram as suas palavras, ideias, 
convicções na sua boca, dizendo-se, no entanto, inspirados por Ele? 
Realmente, só quem tem fé – uma fé cega! – é que acredita que foi 
Javé-Deus que falou pelos profetas; os que a não têm - porque não 
vêem quaisquer motivos para a ter – ficam, honestamente, 
dessacralizando a Bíblia sagrada, bíblia que, aliás, de sagrado pouco ou 
nada tem, como se constata.

E nós que queríamos tanto que a Bíblia fosse realmente sagrada, que 
tudo fosse realmente obra do divino, que o divino realmente existisse 
e descesse à Terra para nos levar a todos para o céu! Enfim, 
contentêmo-nos com o sonho, sempre sorrindo, porque tivemos o 
privilégio de ter vindo à VIDA!…

sábado, 14 de outubro de 2017

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 150/?

À procura da VERDADE nos livros Proféticos

JEREMIAS 10/15

 - “Ao fim de cada sete anos, todos darão liberdade ao seu irmão 
hebreu, que haviam comprado e que já lhes havia servido durante 
seis anos. Devem dar-lhe então a liberdade.” (Jr 34,14)
- Porque é que a Bíblia sanciona a escravatura? Falta de coragem 
de Javé? Porque não apregoou, defendeu a igualdade entre todos os 
Homens perante Deus - o Criador - e os outros Homens? Seria uma 
revolução ou… uma reposição da verdade? Ou havia - há? - Homens 
que são mais Homens do que outros? O que é certo é que a escravatura 
proliferou pelos tempos fora, encheu de dinheiro os bolsos de reis e 
senhores, semeou o sofrimento em muitas gerações… Onde estava 
Javé? Onde esteve Javé para condenar? É que isto não é um problema 
menor! Bule com a dignidade humana. E foi apenas há dois mil e 
quinhentos anos! E é a actuação de um Deus eterno, omnipotente, 
omnisciente! Tais factos não deixam de causar perplexidade às nossas 
mentes inquisidoras mas não rebeldes.
- “Quando a gente de Judá tomar conhecimento de todas as desgraças 
que estou a planear fazer contra eles, talvez cada um se converta 
da sua má conduta e Eu possa perdoar as suas faltas e pecados.” 
(Jr 36,3)
- Se o castigo dos pecados era a invasão pelo rei da Babilónia, 
desejoso de glória e poder, acaso tal invasão não se teria dado se a 
gente de Judá tivesse mudado de conduta? - voltamos a perguntar.
- “No nono mês do quinto ano de Joaquim (…) foi convocado um 
jejum em honra de Javé a todo o povo de Jerusalém (…)” (Jr 36,9)
- Que jejum? E porque “precisava” Javé de um… jejum? Porquê se 
“diverte” a Bíblia a “inventar” mais sacrifícios ou sofrimentos ou 
privações para a vida quando esta se encarrega de no-los apresentar 
na rotina do dia-a-dia? A Bíblia e a Igreja que se lhe seguiu, pois 
até há pouco tempo, o jejum e a abstinência eram imposições da 
Igreja aos seus fiéis. Não em sentido metafórico de conversão, mas 
real no não comer carne ou no se abster dos prazeres da “outra” 
carne…, glorificando o sacrifício como penhor da salvação eterna.
- “(…) O rei mandou (…) prender o escrivão Baruc e o profeta 
Jeremias. Javé, porém, escondeu-os.” (Jr 36,26)
- Foi Javé que os escondeu ou foram eles que conseguiram 
ludibriar os seus perseguidores? Não é intrometer demasiado 
Javé em tudo o que é ou são questiúnculas de humanos? Se eu 
fosse Javé não permitiria que abusassem assim do meu Nome! 
Será que Javé permitiu? Melhor: não será Javé simplesmente uma 
figura gerada na imaginação dos patriarcas daquele tempo…?!
- “Sedecias, filho de Josias, sucedeu no trono…” (Jr 37)
- Aqui, comenta-se: “O texto refere acontecimentos de 587 a.C.: 
o exército babilónico cerca Jerusalém mas é obrigado a retirar-se 
diante de uma investida do exército egípcio comandado pelo faraó 
Hofra. Jeremias fora preso por um grupo nacionalista; este não 
aceitava o realismo político do profeta, que via a submissão a 
Nabucodonosor como única saída. Interrogado pelo rei, Jeremias 
desafia os falsos profetas e confirma a sua própria convicção: 
Jerusalém não escapará à dominação babilónica.” (ibidem)

- E nós, sem qualquer maldade, perguntamos: O realismo político 
era de Javé ou de Jeremias? A convicção de que Jerusalém não 
escaparia à dominação babilónica era de Javé ou de Jeremias? 
Ou este estava de tal modo impregnado do espírito de Javé que 
quando emitia uma opinião era a “opinião” de Javé que emitia 
e… vice-versa? Como poderemos aceitar tal situação sem 
contestarmos? Como? Enfim, porque é que as opiniões 
contrárias às de Jeremias eram tidas por provindas de falsos 
profetas?… Não há dúvidas: estes profetas e estes exegetas 
levam-nos a uma total descrença na Bíblia..

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Onde a Verdade da Bíblia? - Análise crítica - Antigo testamento (AT) - 149/?

À procura da VERDADE nos livros Proféticos 

JEREMIAS 9/15

 - “Tiraste Israel, o teu povo, do país do Egipto com sinais e 
prodígios, com mão forte e braço estendido, espalhando grande 
terror. Deste-lhe esta Terra que tinhas prometido com juramento 
aos seus antepassados, terra onde corre leite e mel. Eles 
chegaram aqui e tomaram posse da Terra, mas não 
Te obedeceram, não se comportaram conforme a tua Lei. (…)” 
(Jr 32,21-23)
- Nada de novo, pois não? Mas isto de Javé dar uma Terra, 
quando foram os israelitas que a conquistaram, passando tudo 
ao fio da espada, não deixa de continuar a ser… no mínimo, 
revoltante!!!
- “Esta cidade sempre foi para Mim motivo de ira e de cólera, 
desde que a construíram até ao dia de hoje. Terei de a afastar da 
minha presença por causa do mal que os israelitas e judeus fazem 
para Me irritar, eles, os seus reis e autoridades, sacerdotes e profetas, 
cidadãos de Judá e habitantes de Jerusalém. (…) Eles colocaram 
os seus ídolos na casa onde se invoca o meu Nome, profanando-a (…)” 
(Jr 32,31-34)
- A linguagem, simbólica embora, é redutora: Javé irritando-se… e 
não há por ali justo algum que aplaque a sua ira divina: são todos 
infiéis… A situação seria confrangedora para qualquer humano 
quanto mais para um Deus! E que Deus! E que 
povo! - Simplesmente, Javé e o povo de Israel!
- “(…) Neste mesmo lugar, ouvir-se-á novamente o som da música, 
os gritos de alegria, a voz do noivo e da noiva, a voz dos que cantam 
trazendo sacrifícios de acção de graças ao Templo de Javé: Agradecei 
a Javé dos exércitos porque Ele é bom, porque o seu amor é para 
sempre.” Pois mudarei a sorte deste país, fazendo-o voltar ao que era 
antes, diz Javé.” (Jr 33,10-11)
- Novamente, a palavra simbólica. E um Javé a quem se deve 
agradecer trazendo sacrifícios… Que sacrifícios? É Javé que deles 
tem necessidade - o que é absurdo! - ou é o Homem que necessita 
de ritos, de cultos, de sinais exteriores de redenção? Estará a Bíblia 
escrita ao contrário?
- “Não faltará um descendente de David para se sentar no trono da 
casa de Israel. Também não faltará um descendente dos sacerdotes e 
levitas para oferecer holocaustos na minha presença, incensar as 
ofertas e oferecer sacrifícios todos os dias. (…) Multiplicarei a 
descendência do meu servo David e dos levitas que Me servem, 
como as estrelas do céu que não se podem contar (…)” (Jr 33,17-22)
- David! Que rei foi realmente David para que seja chamado de 
“servo de Javé”? Para que origine a estirpe donde irá nascer Jesus 
Cristo? Conseguiremos esquecer o triste episódio, já atrás referido, 
narrado em 2Sm 11? Grandes foram os pecadores que depois se 
tornaram santos, ao longo da História. Olha um S. Paulo que 
perseguia os cristãos e depois se converteu no maior apóstolo de 
Cristo! Ou um Santo Agostinho, com vida dissoluta até aos trinta 
e dois anos e depois Doutor da Igreja e… santo! Mas o rei David, 
lendo a sua história no livro 2Samuel, em nada lobrigamos 
qualquer laivo de santidade…
Depois, voltamos aos sacrifícios e holocaustos que Javé parece 
reclamar para si e… aos servidores do Templo que Javé vai 
multiplicar como as estrelas do céu… Para quê tanto sacrifício, 
meu Deus?! E não são demasiados levitas? Não estaria Jeremias 
comprometido com os sacerdotes e levitas do Templo para que 
pusesse na boca de Javé a necessidade de tantos sacrifícios, 
de tantos descendentes?
O serviço de Javé! O serviço do Templo! Que serviço? Outrora 
como hoje! A questão, rebelde embora, talvez para muitos 
chocante - esses que nos perdoem! - não será pertinente? E que nos 
perdoem também aqueles que se dedicam desinteressadamente aos 
irmãos, apesar de esteados numa religião de mistérios… É que, para 
sermos intelectualmente honestos, teríamos de rever toda a religião, 
todas as religiões à face dos conhecimentos actuais, das “certezas” 
actuais sobre o Universo e a Vida, das sociedades actuais, do 
Homem actual.
Onde isso nos levaria, santo Deus! Pois, que crente quererá abandonar 
a sua Fé para se guiar apenas pela razão, pelo conhecimento científico? 
Quem aguentará uma vida de miséria, doença ou sofrimento, sem a
ajuda de promessas de um céu ou de uma eternidade feliz, seja ela 
embora e apenas fruto da Fé, por exemplo, em Jesus Cristo e na sua 
Palavra: “Vou preparar-vos um lugar, junto a meu Pai que está nos 
céus.”? 
Que seria o mundo sem Fé? Onde nos levaria o racionalismo puro? 
A que sociedade? A que Homem? Não veio do próprio Homem a 
necessidade de uma Fé? Antes de Jesus Cristo, num Javé que se 
“revelou” a Moisés, pelos profetas, pelos símbolos da Arca da 
Aliança, pelo Templo. Depois de Jesus Cristo, na sua própria 
Palavra: “Eu sou o caminho, a verdade, a vida. Vinde a mim e 
tereis vida em abundância, a vida eterna. Ninguém vai ao Pai 
senão através de Mim.” Já não falando nas outras religiões antes 
e depois de Cristo…

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Aquando do meu adeus à vida



“Quem já muito andou pouco ou nada tem para andar!” É: o fim irá chegar. Cedo ou tarde! Mas inexoravelmente! Como, inexoravelmente, o tempo não pára e não há manhã que persista nem tarde que não se acabe...
Então, antes que a “voz” se me cale para sempre, a morte me surpreendendo descuidado, eis o que gostaria de deixar como epitáfio de uma vida que foi e... se foi:
«Adeus! Adeus, até àquela eternidade que, queiramos ou não, nos assistirá a todos: a transformação em átomos e moléculas de matéria, matéria que se manterá pedra ou entrará no ciclo da vida de um outro ser vivente qualquer, seja animal ou planta. Mas nós – eu, tu ele – nós, com esta individualidade que temos – melhor, tivemos! – essa não existirá mais. A razão é tão mais que simples: pertencemos ao Tempo, aparecemos no Tempo, vivemos um tempo, integrando-nos no princípio universal da matéria de que “tudo o que tem um princípio, tem inexoravelmente um fim associado”. Embora, nada se perdendo, tudo se transformando... Então, como poderíamos ser a excepção? Quem quiser acreditar noutra hipótese, que acredite ou tenha a presunção e a vaidade de acreditar; mas não passará, nunca passará de simples, ingénua etérea crença...
Assim sendo, é forçoso dizer que foi bom, foi muito bom, foi privilégio que não foi concedido a milhares de milhões de outros seres humanos que ficaram e ficarão para sempre na hipótese de ser. Eu... fui! Que bom! Houve sofrimentos? – Claro que houve! Frustrações? – Quantas, santo Deus! Desilusões e arrependimentos de atitudes tomadas? – Também! Mas tudo foi vida! E fui inteligente quanto bastou para me agarrar mais aos gostinhos dela do que aos seus desaires ou sofrimentos, embora leve comigo a frustração, nesta hora de despedida, de não ter conseguido com que alguns dos que me rodearam jogassem comigo o jogo do só positivo, do só alegria, do só sorriso, criando tantas vezes momentos de suprema infelicidade, arruinando nervos e avolumando rugas no rosto, por ninharias sem importância nenhuma. Que perda de vida, santo Deus! Que perda de vida!
E a mensagem, a grande mensagem a deixar aos que de mim tiveram conhecimento e por cá ficarão mais uns tempos, até chegar a sua hora de partir, será:
«VIVAM AO MÁXIMO A VIDA, VIDA EM QUE CADA MOMENTO É ÚNICO E IRREPETÍVEL! VALORIZEM TUDO O QUE É POSITIVO! QUE O NEGATIVO OU ERROS SIRVAM APENAS PARA MELHOR VIVER A OUTRA PARTE. E SORRIR! SORRIR SEMPRE MESMO QUE A VOZ, POR DENTRO, DOA, DOA MUITO, MUITO!!!»

E flores? Não há flores a enfeitar teu caixão? – Oh, não! Pese embora o desemprego das floristas, se a moda pega, de flores, apenas uma rosa devidamente humedecida para durar muito para além do ali jazer em cima do meu caixão, nas mãos ou na mesa de quem me for mais próximo.



É que flores, ramos de flores, dão-se em vida para homenagear ou mostrar carinho, amor, afecto. Depois, para que raio quer um morto o seu caixão enfeitado de flores, flores que morrerão logo que desça à cova escura, ou enfrente as labaredas da cremação, e o Sol as coza no cemitério?... E caixão, apenas isso: caixa grande onde eu caiba, sem cruz nem adornos; nem por fora nem por dentro; simples caixote de pinho não pintado, cheirando a resina. Pois, tal como as flores, para que raio quer um morto um caixão de oiro? Portanto, nem flores nem caixão doirado...
E um Requiem, por exemplo, o fantástico livrete de Mozart? – Ná! Requiem também não! Nada há para chorar. Cante-se e dance-se! Não porque uma vida se foi, mas porque milhões, biliões de outras continuam, a começar pelas dos presentes. Então, cantem-se essas com aleluias, o Aleluia de Haendell, por exemplo, ou hinos à alegria, como o de Beethoven. Ali, mesmo ali, em frente de um morto que, afinal, apenas representa uma vida que se foi...
Assim sendo, não haverá lugar a lágrimas... – Não! Por favor, não chorem sobre o meu caixão, nem façam caras tristes, nem se vistam de negro e outras coisas assim. Lágrimas só para mostrar alegria, comoção, enternecimento. Chorar ali é tempo de vida perdido... Mas quem não conseguir suster as lágrimas, deixe-as correr à vontade. Afinal, uma morte é um momento de despedida e toda a despedida apela à comoção e ao sentimento, àquela saudade que tanto nos aperta o peito...
Enfim, faltam as cinzas. Que faremos delas? – Se não puder ser no mesmo dia, agende-se um outro qualquer para ir até ao rio ou até ao mar e lançá-las à água corrente ou marulhante. Assim, mais facilmente se espalham pela Natureza, moléculas de moléculas que um dia da Natureza vieram e a ela retornam impreterivelmente. O Destino implacável, inexorável! Claro, tudo em tom de festa, com música a gosto que até pode ser romântica com violinos ou oboés, cortando os ares...
Vivo agora – melhor, vivi agora! – nesta época fantástica em que de tanto Conhecimento e Ciência já somos capazes. Porquê, então, não ser realista e, mesmo na hora da morte, ver o lado positivo dela? Não foi uma sorte ter vindo à VIDA? – Pois então, aplauda-se essa sorte e deixemo-nos de lamúrias, lágrimas ou lamentações! 
O IMPORTANTE É O SORRISO!
Ah, falta a missa, com padre a abençoar os restos mortais e a encomendar a alma do defunto ao Deus Criador! – Não! Por favor, missa também não! É que a religião, ela própria inventada por homens, inventou um Deus inexistente, um Céu inexistente, anjos e santos inexistentes, um Inferno e os seus demónios inexistentes, uma própria alma humana inexistente, uma eternidade ou uma imortalidade inexistentes... Tudo impossíveis, tudo inexistentes pela magna – ou simples?! – razão de que tudo pertence ao Tempo e o que é do Tempo não pode ser nem imortal nem eterno. Imortal e eterno só o Deus Infinito – que não é o das religiões! – o Deus que é o TUDO existente, o TUDO onde tudo se integra, Espaço e Tempo e tudo o que pertence ao Tempo, nós também, obviamente.
E tenho dito! Adeus! Adeus, até sempre, mesmo que esse sempre não exista nunca mais porque tudo foi... um dia! Num dado momento do Tempo!...

PS (imprescindível):

Antes do adeus afinal, fica a pergunta talvez, de todas, a mais importante: “Valeu teres vivido? Tu valeste a pena?” – Quem não viver de modo a que, no fim da vida, possa dizer “Eu vali a pena!”, deveria pensar em desistir! Pois, para quê uma inutilidade? Aproveita a alguém, a começar pelo próprio? A questão é melindrosa. Pode levar à depressão, à análise emocional – logo irracional – das situações – e tantas são elas! – em que, na vida, tudo nos parece negro, tudo sem esperança, sendo a morte o caminho mais fácil para colmatar o desespero. E poder-se-iam perder muitas vidas que, julgadas inúteis até ao momento, muito ainda tivessem para dar, ao próprio e ao mundo. Por isso, muito cuidado nessa auto-avaliação! Aliás, o suicídio é de uma injustiça enorme para com a vida: “Custou-me” tanto ter vindo a ela e, agora, ia assim desperdiçá-la por uma depressãozinha qualquer?

Ora eu, chegado ao fim, sinto poder dizer: “Eu vali a pena!”. Eu gerei, eu plantei, eu lutei com as armas da minha geração (cada geração tem as suas armas e é com elas que deve lutar sem ficar a carpir mágoas por não ter as de outros tempos...) ganhei e perdi, vivi! Eu semeei ideias para mudar pessoas e comportamentos e o mundo que me viu nascer, deixando-o melhor à partida do que o encontrei à chegada. Infelizmente, pouco ou nada consegui. Talvez um dia! Mas as ideias novas aí ficam para quem as quiser aproveitar e, com elas, mudar o mundo, humanizá-lo, criar a imprescindível fraternidade universal, todos irmãos e não o “homo homini lupus”, (o Homem lobo do seu semelhante), nas pseudo-democracias actuais, todos escravos da tirania do dinheiro, da usura, da ganância de uns quantos que dominam – são “lupus”! – a maior parte da humanidade, não tendo qualquer pejo em deixá-la morrer à fome ou de doença, se isso acarretar ganhos para a sua conta bancária...
Então, e ainda, a última, a derradeira mensagem para os que ficam será:

“VIVEI DE MODO A QUE, NO FIM DA VIDA, POSSAIS DIZER, COM UM SORRISO NOS LÁBIOS, SORRISO EMBORA JÁ ALI FENECENDO PELO DESENLACE FINAL: “EU VALI A PENA”!


A...........deus!!!!!