À procura da
VERDADE nos livros Proféticos
JEREMIAS 1/15
- Lendo a Introdução (ibidem), a impressão é de que
não iremos
mais longe do que com Isaías. A História do povo de Israel está
presente, condiciona tudo. São factos passados entre 627 e
586 a.C. - queda de
Jerusalém e princípio do exílio na Babilónia.
A descrença de que haja aqui
qualquer coisa de divino é
incontornável. Mas… sem alternativas, vamos ler.
- “Palavras de Jeremias, filho de Helcias, um dos
sacerdotes de
Hanatot (…). A palavra de Javé foi-lhe dirigida no décimo
terceiro
ano do reinado de…” (Jr 1,1-2)
- A identificação no tempo é perfeita. Mas… porque
será a sua palavra,
palavra de Javé? Porque não simplesmente, a sua visão dos
acontecimentos que não as suas ideias políticas, aliás como Isaías,
dizendo-se
intérprete de Javé, pondo as suas ideias - que pecado! que
abuso! que despudor!
- na boca de Javé? Um qualquer de nós não
poderia dizer que é Deus a falar
quando exprimimos as nossas
“sábias” opiniões? Não têm os cientistas ideias
brilhantes, decisivas na
evolução da História? Não são os poetas e artistas
inspirados por divinas
musas? Não é todo o Bom e Belo inspiração de Deus? Não
se diz
que malignas acções e ideias perversas são inspiração do diabo? Onde
a
diferença? Só porque não reclamam - humildemente! - para si, a
inspiração
divina, atribuindo a Deus tais ideias, tais inspirações?
Aliás, comenta-se, a propósito de 1,4-25,38: “Esta
parte contém as
profecias (…) de Jeremias contra o reino de Judá. (…) O tema
geral é
o confronto entre Jeremias e as estruturas sociais decadentes da sua
época.” (ibidem)
- “Recebi a palavra de Javé que me dizia: Antes de te formar no ventre
da tua mãe, Eu
te conheci; antes que fosses dado à luz, Eu te consagrei
para fazer de ti
profeta das nações. (…) Então Javé estendeu a mão,
tocou na minha boca e
disse-me: Eis que ponho as minhas
palavras na
tua boca.” (Jr 1,5 e 9)
- Claro que tais afirmações não nos merecem qualquer
credibilidade!
A mão, o tocar, as palavras de Javé… é tudo simbólico.
- “Deitavas-te e prostituías-te no alto de qualquer
colina mais elevada
ou debaixo de qualquer árvore frondosa. (…) Como te atreves
a dizer
que nunca te contaminaste, que nunca procuraste deuses estrangeiros?
(…) Reconhece o que fizeste, camela leviana de caminhos extraviados,
jumenta
selvagem, habituada ao deserto, farejando o vento no calor
do cio: quem domará
a tua paixão? Quem te for procurar não vai ter
trabalho, pois vai encontrar-te
sempre no mês do cio.(…) Prostituíste-te
com muitos amantes e ousas voltar para
Mim? - oráculo de Javé.
(…) Onde é que não foste desonrada? Como viajante no
deserto,
sentavas-te à beira dos caminhos, à disposição deles (…) Continuaste
a
tua vida de prostituta e nem disso te envergonhaste (…) Viste o que
fez Israel,
essa rebelde? Ela andou por todos os altos montes e
prostituiu-se à sombra de
toda a árvore frondosa. (…) A infiel Judá,
sua irmã, (…) também ela caiu na
prostituição (…) ” (Jr 2-3)
- A obsessão por imagens com conexões sexuais,
constante nos autores
bíblicos, não deixa de nos fazer pensar num certo
recalcamento sexual
destes autores, talvez por tabus intransponíveis para a
classe sacerdotal,
embora houvesse as prostitutas “sagradas”… E, aceitando o
simbolismo,
poder-se-ia perguntar se não haveria modo mais “divino” de exprimir
a
infidelidade de Israel e de Judá…
- “Do Norte vou fazer vir uma desgraça, uma grande
devastação. (…) O
país inteiro vai ser arrasado (…) Eu decidi e não vou
arrepender-Me nem
voltar atrás.” (Jr 4)
- Jerusalém vai ser arrasada… castigada, pelos seus
pecados: injustiça,
não uso do direito, infidelidades a Javé adorando os
ídolos. A História é
real. A interpretação bíblica é religiosa. Que
credibilidade merece tal
interpretação? Porquê acreditar que é castigo de Javé?
Todos os povos
vítimas de guerras e de genocídios foram, são e serão castigados
por Javé?
Castigo dos seus pecados? De certo que não! Então, porquê admitir tal
com Israel, há dois mil e quinhentos anos? Só porque um Isaías ou um
Jeremias
“profetizou” tal em nome de Javé? Tal como nos anteriores
supostos profetas,
também em Jeremias Javé vai ser a panaceia para
todas as suas cogitações ou
interpretações da História.
Embora de férias, retomamos, ainda que sem regularidade semanal, a saga da análise crítica da Bíblia. O suposto profeta Jeremias vai, então, fazer-nos companhia...
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