À procura da
VERDADE nos livros Sapienciais
O ECLESIÁSTICO – 1/15
- O “nosso” comentador introduz-nos: “ (…) Este
livro está
assinado e datado. (…) Foi redigido na primeira década do
séc. II
a.C. (…), numa tentativa de superar a crise representada
pelos livros de Job e
Eclesiastes. Este conservador lúcido
organiza uma síntese da religião tradicional
e da sabedoria
comum, aprofundada na experiência pessoal. (…) Os temas
focados:
amizade, preguiça, educação, pobreza, doença,
riqueza, escravos, banquetes (…)
A retribuição continua a
cingir-se ao horizonte terrestre e ao gozo de uma
felicidade
marcadamente tradicional: saúde, longevidade, descendência,
bem-estar e renome. (…) Ben Sirá apresenta a sabedoria
personalizada e
relacionada com a história de Israel.” (ibidem)
- Comentemos: 1 – A assinatura e a data conferem
carácter
histórico preciso ao livro de Jesus e Ben Sirá, remetendo para
uma
suposta inspiração divina tardia… 2 – Os livros de Job
e Eclesiastes,
debruçando-se sobre a angústia existencial do
justo e do injusto terem
exactamente o mesmo fim – o pó
ou o total esquecimento! – abrem, na verdade, uma crise bíblica:
que
ganha o justo em sê-lo? 3 – Enfim, se a “retribuição” não
vai além do horizonte
terrestre, onde a divindade do livro?
Porquê sagrado? Porquê de inspiração
divina? Porque não e tão
só de inspiração/reflexão humana?
- “Recebemos muitos e profundos ensinamentos da Lei,
dos
Profetas e dos Escritos (…). Por tudo isso, se deve louvar Israel
como povo
instruído e sábio.” (Prólogo)
- Aceitemos que Israel tenha sido (seja!) um povo
“instruído e
sábio”. Tão instruído e sábio que - somos tentados a dizer -
“inventou”
um Javé-Deus só para ele, considerando-se “povo eleito” desse
mesmo
Javé, e “criou” a Bíblia, que mais não é do que a sua
própria história e o
reflexo da sua cultura e da sua vida, mas
impondo-a ao mundo! Mas, como se
explica que, ao longo da
História, tenha sido um povo quase sempre apátrida,
maltratado e
escorraçado dos países em que se foi enraizando, sempre
desejando
mas nunca alcançando verdadeiramente a Pátria a que
chamou Terra Prometida,
bebendo o leite e o mel que nela corriam?
- “O princípio da sabedoria é o temor ao Senhor.”
(Eclo 1,12)
- Repete-se. Veja-se, por exemplo, Pr 1,7. E… basta
de um Deus
que atemoriza!
- “Só um é sábio e sumamente terrível quando se
senta no trono:
é o Senhor, Ele que criou a sabedoria (…) Quem teme o Senhor
acabará bem e será abençoado no dia da morte.” (Eclo 1,6 e 11)
- Sábio e terrível? Porquê? E que bênção é essa no
dia da morte?
Mais uma afirmação gratuita desta Bíblia, que - repetindo-nos -
parece não passar da história guerreira de um povo auto-proclamado
eleito de
Javé e da compilação de uns tantos códigos de boa
convivência social,
inspirados, aliás, em civilizações anteriores ou
contemporâneas. “Livro
Sagrado”, “Livro da Verdade”? – Difícil de
acreditar… Aliás, cada vez mais nos
parece que não foi Deus que
fez o Homem à sua imagem e semelhança mas foi o
Homem que
o fez à sua. Uma hipótese muito mais credível perante as mensagens
aqui escritas.
- “O Homem paciente resiste até ao momento oportuno,
depois
será compensado com a alegria.” (Eclo 1,20)
- Belo princípio da sabedoria… humana!
- “Não te eleves (…) porque o Senhor descobrirá o
que escondes
e humilhar-te-á no meio da assembleia (..)” (Eclo 1,27-28)
- Será o Senhor que humilha ou o próprio indivíduo
que
quis subir alto demais a cair na humilhação?… Colocar Javé
sempre a
subjugar o Homem só o desacreditam como Deus. E nós
que tanto quiséramos
acreditar num Deus verdadeiro… Talvez
Deus seja isso mesmo: a nossa consciência
do Bem e do Mal; a
nossa tendência para a harmonia universal que a inteligência
nos dita
como necessária para que a vida não seja uma selva sem regras; a tal
Sabedoria, a tal Lei que, já antes do povo que se arroga de “eleito”
existir,
existia em códigos como o de Hamurabi, rei da Babilónia,
e em outras
civilizações mais antigas. Aliás, que sociedade de
humanos poderia subsistir
sem códigos de convivência social?
ResponderEliminarAfinal, vamos ocupar-nos, não dos Salmos, de que já falámos no início do ano, mas do livro da Bíblia que é o mais completo na análise da angústia existencial do Homem, depois de Job e Eclesiastes: o que há para além da morte.
Pela sua importância, escrutiná-lo-emos um pouco mais longamente, embora fazendo escolhas e selecções do que é mais relevante. Serão 15 textos. Esforçar-nos-emos para que não vos sejam fastidiosos…
Boa reflexão, já habitual em Francisco Domingues, grande interrogador em demanda da Sageza, da Sabedoria, do como e porquê das coisas...
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