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CÂNTICO DOS CÂNTICOS – 4/4
Deliciemo-nos, pela última vez, com a repetida cena de dois
amantes
apaixonados:
- “És bonita, minha amiga (…) formosa como Jerusalém.
Tu és terrível como esquadrão
com bandeiras desfraldadas.” (Ct
6,4)
A comparação bélica parece tosca! Destoa. Quebra o romantismo…
- “Afasta de mim os teus olhos,
que os teus olhos me perturbam!
O teu cabelo (…) os teus dentes
(…) os teus seios (…)”
(Ct 6,5-7)
“Sejam (…) rainhas (…)
concubinas (…) donzelas (…) sem
conta, mas uma só é a minha pomba, sem defeito,
uma só a
preferida (…). As jovens, (…) as rainhas e concubinas
felicitam-na: Quem é esta que desponta como a aurora, bela
como a Lua, fulgurante como o Sol, terrível como esquadrão
com bandeiras
desfraldadas?” (Ct 6,8-10)
Tímido ou… galanteador, este amante? - Galanteador, sem
dúvida!
- “Os seus pés (…) como são belos (…)!
As curvas dos seus quadris (…)
obras de um artista.
O seu umbigo… essa taça redonda
onde o vinho nunca falta.
O seu ventre, monte de trigo
rodeado de açucenas.
Os seus seios, dois filhinhos
filhos gémeos de gazela.
O seu pescoço, uma torre de
marfim.
Os seus olhos, as piscinas de
Hesebon (…)
O seu nariz (…) a torre do
Líbano (…)
A sua cabeça (…) como o Carmelo
e os seus cabelos (…) prendendo
um rei nas tranças.
Como és bela (…)!
Tens o porte da palmeira
e os teus seios são os cachos.
E eu pensei: Vou subir à palmeira
para colher dos seus frutos!
Sim, os teus seios são cachos de
uva
e o sopro das tuas narinas
perfuma
como o aroma das maçãs.
A tua boca é um vinho delicioso
que se derrama na minha,
molhando-me lábios e dentes.”
(Ct 7,2-10)
Os olhos… os seios… e novamente os seios… O amado
- “Eu sou do meu amado,
o seu desejo trá-lo para mim.
Vem, meu amado,
vem ao campo, vamos pernoitar
debaixo dos cedros,
madrugar pelas vinhas. (…)
Aí darei o meu amor…
Grava-me como selo no teu
coração,
como selo nos teus braços;
pois o amor é forte, (…)
As águas da torrente jamais
poderão apagar o amor
nem os rios afogá-lo. (…) (Ct
7,11 e 8,6-7)
Assim se termina. O Cântico é sem dúvida belo. Belíssimo!
De inspiração,
“divina”! Mas o permanente chamamento ao
prazer dos sentidos é tão humano, tão
doce, tão apelativo!…
Enfim, fica-nos a beleza das palavras, das cenas, do
romance.
O divino perde-se no mistério!…
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