sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Onde a Verdade da Bíblia? Análise crítica - Antigo Testamento (AT) - 80/?

À procura da VERDADE 
nos LIVROS SAPIENCIAIS e POÉTICOS

O livro de JOB 3/6

- Novamente, um dos amigos: “Tu estás a destruir a religião e a eliminar 
a oração. (…) É a tua própria boca que te condena. (…) Para onde te 
arrasta o teu coração (…) quando te encolerizas contra Deus e a tua boca 
solta tais protestos! Como pode o Homem ser puro, como pode ser 
inocente quem nasceu de mulher? Deus não confia nem mesmo nos seus 
anjos, nem o céu é puro aos seus olhos. Quanto menos o Homem 
detestável e corrompido (…)! O injusto vive em contínuo tormento. (…) 
Quem concebe a maldade dá à luz a desgraça.” (Job 15,4-35)
- Quantos crentes, que não críticos, lendo-nos, não terão para connosco 
exactamente o mesmo discurso, condenando-nos pela nossa própria 
boca? Mas, nós, sem nos julgarmos plenos de razão contra Deus, 
continuamos a questioná-Lo, porque Ele é a VERDADE e é afinal Ele 
que finalmente procuramos! Onde estais, meu Deus, que não Vos 
encontramos?!
A voz do amigo faz lembrar velhos preconceitos bíblicos, como a impureza 
da mulher que dá à luz, mas não comentemos… E que dizer que Deus 
nem sequer confia nos seus anjos? Já se terá inventado o diabo – o mais 
brilhante anjo do céu, Lúcifer, que quis ser igual a Deus? E é fiável afirmar 
que o injusto vive em contínuo tormento? De qualquer modo, Job não se 
conforma: “Já ouvi mil discursos semelhantes! (…) Eu também poderia falar 
como vós, se estivésseis no meu lugar (…) Mas ainda que fale, a minha 
dor não desaparece (…) Deus esgotou-me e destruiu toda a minha família 
(…) A sua ira ataca-me e dilacera-me. (…) Eu vivia tranquilo e Ele 
esmagou-me.” (Job 16,2-12)
- No entanto, refugia-se em Deus em petição e lamento: “Sê Tu o meu 
fiador diante de Ti mesmo, pois nenhum outro se empenharia em ser 
meu fiador. (…) Onde está a minha esperança? Alguém viu por aí a 
minha esperança?” (Job 17,3-15). És divino, Job! És divino! Realmente 
só Deus pode ser nosso fiador perante Ele mesmo! Só Deus!
- Ainda não o dissemos, tal é o nosso espanto e admiração pela ousadia de Job. 
Mas Job é a construção de uma bela personagem por um autor que se 
excede em mestria de linguagem, em jogos de raciocínio socrático, para 
nos conduzir avidamente até ao desenlace da história…
- Nesta saga romanesca dramática, outro amigo intervém: “Dilaceras-te com 
a tua própria raiva. Será que a Terra vai ficar desabitada por tua causa? (…) 
A luz do injusto apagar-se-á e o fogo do seu lar não brilhará mais. 
(…) Os terrores rodeiam-no e amedrontam-no (…) A doença devora a sua 
pele (…) Será expulso da luz para as trevas (…)” (Job 18,4-18).
Job defende-se, sem medo de invectivar Deus: “Quereis cantar vitória 
lançando-me na cara a minha vergonha? Ficai sabendo que foi Deus quem 
violou o meu direito (…) Despojou-me da minha honra (…) A Sua ira 
inflamou-se contra mim e Ele trata-me como a um seu inimigo. (…) A minha 
mulher tem nojo do meu hálito (…) A minha carne apodrece por baixo 
da pele (…). Porque me perseguis como Deus e não vos cansais de me torturar?” 
(Job 19,5-22)

O leitor é facilmente levado a simpatizar com Job. É que ele incarna 
exactamente todas as dúvidas dos crentes que não querem acreditar cegamente 
e que põem em causa todos os ensinamentos que receberam na catequese…

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