À procura da VERDADE
nos LIVROS
SAPIENCIAIS e POÉTICOS
O livro de JOB 3/6
- Novamente, um dos amigos: “Tu estás a destruir a religião e a eliminar
a oração. (…) É a tua própria boca que te condena. (…) Para onde te
arrasta o
teu coração (…) quando te encolerizas contra Deus e a tua boca
solta tais
protestos! Como pode o Homem ser puro, como pode ser
inocente quem nasceu de
mulher? Deus não confia nem mesmo nos seus
anjos, nem o céu é puro aos seus
olhos. Quanto menos o Homem
detestável e corrompido (…)! O injusto vive em
contínuo tormento. (…)
Quem concebe a maldade dá à luz a desgraça.” (Job
15,4-35)
- Quantos crentes, que não críticos, lendo-nos, não terão para connosco
exactamente o mesmo discurso, condenando-nos pela nossa própria
boca? Mas, nós,
sem nos julgarmos plenos de razão contra Deus,
continuamos a questioná-Lo,
porque Ele é a VERDADE e é afinal Ele
que finalmente procuramos! Onde estais,
meu Deus, que não Vos
encontramos?!
A voz do amigo faz lembrar velhos preconceitos bíblicos, como a impureza
da mulher que dá à luz, mas não comentemos… E que dizer que Deus
nem sequer
confia nos seus anjos? Já se terá inventado o diabo – o mais
brilhante anjo do
céu, Lúcifer, que quis ser igual a Deus? E é fiável afirmar
que o injusto vive
em contínuo tormento? De qualquer modo, Job não se
conforma: “Já ouvi mil
discursos semelhantes! (…) Eu também poderia falar
como vós, se estivésseis no
meu lugar (…) Mas ainda que fale, a minha
dor não desaparece (…) Deus
esgotou-me e destruiu toda a minha família
(…) A sua ira ataca-me e
dilacera-me. (…) Eu vivia tranquilo e Ele
esmagou-me.” (Job 16,2-12)
- No entanto, refugia-se em Deus em petição e lamento: “Sê Tu o meu
fiador diante de Ti mesmo, pois nenhum outro se empenharia em ser
meu fiador.
(…) Onde está a minha esperança? Alguém viu por aí a
minha esperança?” (Job
17,3-15). És divino, Job! És divino! Realmente
só Deus pode ser nosso fiador
perante Ele mesmo! Só Deus!
- Ainda não o dissemos, tal é o nosso espanto e admiração pela ousadia de
Job.
Mas Job é a construção de uma bela personagem por um autor que se
excede
em mestria de linguagem, em jogos de raciocínio socrático, para
nos conduzir
avidamente até ao desenlace da história…
- Nesta saga romanesca dramática, outro amigo intervém: “Dilaceras-te com
a tua própria raiva. Será que a Terra vai ficar desabitada por tua causa? (…)
A
luz do injusto apagar-se-á e o fogo do seu lar não brilhará mais.
(…) Os
terrores rodeiam-no e amedrontam-no (…) A doença devora a sua
pele (…) Será
expulso da luz para as trevas (…)” (Job 18,4-18).
Job defende-se, sem medo de invectivar Deus: “Quereis cantar vitória
lançando-me na cara a minha vergonha? Ficai sabendo que foi Deus quem
violou o
meu direito (…) Despojou-me da minha honra (…) A Sua ira
inflamou-se contra mim
e Ele trata-me como a um seu inimigo. (…) A minha
mulher tem nojo do meu hálito
(…) A minha carne apodrece por baixo
da pele (…). Porque me perseguis como Deus
e não vos cansais de me torturar?”
(Job 19,5-22)
O leitor é facilmente levado a simpatizar com Job. É que ele incarna
exactamente todas as dúvidas dos crentes que não querem acreditar cegamente
e
que põem em causa todos os ensinamentos que receberam na catequese…
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