Estou muito feliz:
1 – Nasci num país que me permitiu,
obviamente com o meu esforço, aceder a uma cultura superior, um país que
pertence a um Continente onde ainda há valores universais, pelo menos, depois
da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade – a velha Europa, Europa
que está a ser actualmente invadida por corpos estranhos e assassinos…
2 – Pertenço a uma geração que
nasceu num país de vidas de subsistência e de muito trabalho, sobretudo agrícola,
mas cheio de valores universais, com ou sem influência religiosa: o amor à vida,
o amor ao próximo, a solidariedade, a lealdade da palavra dada, o respeito
pelos mais velhos…
3 – A minha geração assistiu e
participa numa das mais fantásticas aventuras e conquistas do Homem: o
desvendar dos segredos do Universo que, embora tão poucos, nos permitem ver
para além das estrelas…; a descoberta do genoma humano; o boum das novas
tecnologias que revolucionou as comunicações e permitiu à Ciência catapultar-se
a níveis nunca antes alcançados.
Mas… estou muito infeliz:
1 – O Homem criou sociedades
injustas, desiguais, sem controle de natalidade em muitos países – quanto mais
subdesenvolvidos, maior o índice de natalidade – tendo-se tornado espécie
infestante da Terra, consumindo todos os seus recursos, pouco deixando para os
outros seres vivos – animais e plantas – que têm tanto direito à Vida como o
mesmo Homem.
2 – Reapareceram os antigos fundamentalismos
religiosos julgados erradicados, há muito, do Planeta, não se falando mais, nem
em santas inquisições (apesar do recentíssimo nazismo), nem em escravatura, nem
no “ou te convertes ou morres” usado pelos conquistadores cristãos das Índias e
Américas ou pelos muçulmanos, no Norte de África e Ásias. Isto, apesar de todas
as religiões continuarem a saga da mentira, dizendo-se de origem divina quando
todos os intelectuais sabem que são apenas produto da mente de alguns ditos
iluminados e que outros, por conveniências as mais diversas, abraçaram como se
fosse a maior das Verdades e assim a pregam, arrastando atrás de si muitos e
muitos milhões…
3 – Os senhores do mundo – políticos,
economistas e financeiros - deixaram-se dominar pelo egoísmo atroz e pela
corrupção desenfreada, acumulando fortunas colossais, em detrimento de toda uma
população mundial que vai morrendo de fome e de doenças, quando não é pelas
guerras que é obrigada a suportar, guerras impostas pelos mesmos senhores, para
venderem os milhões de armas que diariamente saem das suas fábricas, tendo
posto ao serviço da inovação em armamento muito do que a Ciência tem inventado
e descoberto. Símbolo máximo: a bomba atómica, sem esquecer as armas químicas
propagando vírus letais, as minas anti-pessoais, as bombas de fragmentação, mas
tudo culminando na maior aberração de sempre: os kamikases, agora tanto na moda,
que se fazem explodir, em nome sabe-se lá de quê…
E eu que queria ter passado pela
Vida, por este belo Planeta, deixando-o mais belo do que o encontrei, e tendo
contribuído para uma sociedade mais justa, mais humana, mais racional e mais
fraterna!
Pura ilusão! Agora, estou certo –
tenha ou não ainda muitos anos de vida – ir-me-ei com a mágoa de pouco ou nada
ter conseguido de tão magnos objectivos, embora tenha lutado muito por eles. Ao
meu modo, claro! Não saindo – se calhar covardemente… - do meu cantinho de
prazer e de conforto.
Mesmo assim, poderei dizer,
quando se me fecharem os olhos e sorrindo à vida que se foi, “Eu vali a pena!”?
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