quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

A desilusão existencial do actual ser humano que se tem por inteligente e bom



Estou muito feliz:

1 – Nasci num país que me permitiu, obviamente com o meu esforço, aceder a uma cultura superior, um país que pertence a um Continente onde ainda há valores universais, pelo menos, depois da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade – a velha Europa, Europa que está a ser actualmente invadida por corpos estranhos e assassinos…
2 – Pertenço a uma geração que nasceu num país de vidas de subsistência e de muito trabalho, sobretudo agrícola, mas cheio de valores universais, com ou sem influência religiosa: o amor à vida, o amor ao próximo, a solidariedade, a lealdade da palavra dada, o respeito pelos mais velhos…
3 – A minha geração assistiu e participa numa das mais fantásticas aventuras e conquistas do Homem: o desvendar dos segredos do Universo que, embora tão poucos, nos permitem ver para além das estrelas…; a descoberta do genoma humano; o boum das novas tecnologias que revolucionou as comunicações e permitiu à Ciência catapultar-se a níveis nunca antes alcançados.

Mas… estou muito infeliz:

1 – O Homem criou sociedades injustas, desiguais, sem controle de natalidade em muitos países – quanto mais subdesenvolvidos, maior o índice de natalidade – tendo-se tornado espécie infestante da Terra, consumindo todos os seus recursos, pouco deixando para os outros seres vivos – animais e plantas – que têm tanto direito à Vida como o mesmo Homem.
2 – Reapareceram os antigos fundamentalismos religiosos julgados erradicados, há muito, do Planeta, não se falando mais, nem em santas inquisições (apesar do recentíssimo nazismo), nem em escravatura, nem no “ou te convertes ou morres” usado pelos conquistadores cristãos das Índias e Américas ou pelos muçulmanos, no Norte de África e Ásias. Isto, apesar de todas as religiões continuarem a saga da mentira, dizendo-se de origem divina quando todos os intelectuais sabem que são apenas produto da mente de alguns ditos iluminados e que outros, por conveniências as mais diversas, abraçaram como se fosse a maior das Verdades e assim a pregam, arrastando atrás de si muitos e muitos milhões…
3 – Os senhores do mundo – políticos, economistas e financeiros - deixaram-se dominar pelo egoísmo atroz e pela corrupção desenfreada, acumulando fortunas colossais, em detrimento de toda uma população mundial que vai morrendo de fome e de doenças, quando não é pelas guerras que é obrigada a suportar, guerras impostas pelos mesmos senhores, para venderem os milhões de armas que diariamente saem das suas fábricas, tendo posto ao serviço da inovação em armamento muito do que a Ciência tem inventado e descoberto. Símbolo máximo: a bomba atómica, sem esquecer as armas químicas propagando vírus letais, as minas anti-pessoais, as bombas de fragmentação, mas tudo culminando na maior aberração de sempre: os kamikases, agora tanto na moda, que se fazem explodir, em nome sabe-se lá de quê…

E eu que queria ter passado pela Vida, por este belo Planeta, deixando-o mais belo do que o encontrei, e tendo contribuído para uma sociedade mais justa, mais humana, mais racional e mais fraterna!
Pura ilusão! Agora, estou certo – tenha ou não ainda muitos anos de vida – ir-me-ei com a mágoa de pouco ou nada ter conseguido de tão magnos objectivos, embora tenha lutado muito por eles. Ao meu modo, claro! Não saindo – se calhar covardemente… - do meu cantinho de prazer e de conforto.
Mesmo assim, poderei dizer, quando se me fecharem os olhos e sorrindo à vida que se foi, “Eu vali a pena!”?


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