Um ponto de encontro para discutir o outro lado da vida, abordando, com toda a abertura de espírito, a sempre polémica dicotomia: Razão e Ciência versus Religião e Fé.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Quem foi (é) Jesus Cristo (1)
Este foi o mote sobre o qual se realizou um colóquio no Seminário da Boa Nova, em Valadares, Colóquios “Igreja em diálogo”. Dois dias. O programa era aliciante. Fui.
Temas e oradores (todos sumidades e professores dos assuntos; universitários; católicos; nenhum do contra ou contestatário; todos do “Ámen”, com a honrosa, embora parcial, excepção de J.M.Castillo): “De Jesus a Jesus Cristo”, Anselmo Borges; “Uma biografia (impossível) de Jesus”, Xabier Pikaza; “Jesus e a gnose”, Antonio Piñero; “Jesus e Deus”, Juan Estrada; “Jesus e a política”, Paulo Rangel; “Jesus e a Igreja”, José María Castillo; “Jesus e as religiões” Juan José Tamayo; “Jesus e as mulheres”, Isabel Allegro Magalhães; “Que quer dizer ressuscitar dos mortos”, Andrés Torres Queiruga.
Do muito prometido, disseram-se coisas interessantes, sem dúvida, mas, a maior parte dos oradores não teve a coragem de ir ao fundo das questões e não soube responder às perguntas difíceis que lhe foram colocadas. No final, poder-se-ia dizer que foi mais “Uma Igreja em monólogo do que em diálogo”, tanto da parte dos oradores como dos que os questionaram com perguntas dentro do alinhamento. Aliás, como o tempo de perguntas era escasso, não foi possível ou permitido ao “não-alinhamento” colocar as questões pertinentes. Por isso, nós aqui, vamos dar voz a todos quantos queiram questionar e buscar a Verdade, essa Verdade de que a Igreja (e seus mentores) tanto diz possuir e ser guardiã, mas que não deixa que venha à luz do dia. Seguiremos, pois, nos próximos textos, a ordem dos temas tratados. Apenas, os mais importantes, claro. E assim, ficaremos com a ideia clara de quem foi (é!) realmente Jesus Cristo.
“De Jesus a Jesus Cristo”, Anselmo Borges nada disse de interessante. Vamos nós dizê-lo! E este é (foi) a grande questão. Pois de Jesus, como homem, um judeu inteligente e piedoso do seu tempo, qualquer que tenha sido o seu percurso de vida, já sabemos o suficiente para o dizer um mentor da fraternidade universal, um defensor dos pobres e das minorias, um “guerreiro” contra os status quo político-religioso do seu tempo, sobretudo o religioso, verberando contra os escribas e fariseus hipócritas e exploradores do povo, através do Templo a quem chamavam pomposamente a “Casa de Deus”, aliás, perpetuando-se nas nossas igrejas e catedrais de hoje com nenhuma ou quase nenhuma diferença...
Então, quando é que Jesus deixou de ser homem para se tornar divino ou, se quisermos, “Filho de Deus, consubstancial ao Pai, portador para a humanidade da Revelação, ou seja, do Reino de Deus ou da Salvação do Homem, o Cristo, o Escolhido, o Salvador”? Como não queremos alongar-nos, apenas três referentes a que voltaremos mais adiante: 1 - À pergunta “Quem dizem os homens que eu sou”, Pedro respondeu: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”. (Da interpretação e do carácter não histórico dos evangelhos, bem como de interpolações tardias introduzidas neles, falaremos em outros textos). 2 – Paulo, depois da sua suposta visão de Cristo ressuscitado, defendeu nas suas cartas que Jesus só teria interesse, não como homem nem como um mensageiro da fraternidade universal, mas como garante da nossa salvação eterna, através da ressurreição, no Céu junto ao Pai, onde Jesus se encontrava, depois de ter redimido o Homem do pecado, oferecendo-lhe assim a salvação. 3 – O evangelho de João é todo ele um tratado de cristologia, em que o Jesus-homem se apaga quase completamente para apenas aparecer o divino que, obviamente, ele não foi.
Muito mais haveria a acrescentar. Resumamos dizendo que todo o resto foi continuado a ser encenado pelos primeiros mentores (padres) das comunidades cristãs, prolongando-se tal encenação desde o primeiro século até aos nossos dias, com os papas de Roma à cabeça. E assim nasceu um Cristo que apenas foi realmente Jesus! (Cont.)
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