O autor dos Actos, certamente
entusiasmado com a aceitação do povo crente e inculto dos muitos milagres
narrados nos evangelhos, sobretudo por Mateus – obviamente também inventados –
deliciou-se a inventar e propagandear mais umas dezenas deles supostamente
realizados pelos apóstolos.
Mas, mesmo assim, acreditemos que a análise
crítica por nós elaborada não terá sido pura perca de tempo, apesar de dar importância
a textos que realmente a não têm.
Vamos, então a Paulo ou S.
Paulo, o primeiro doutor da Igreja, focando-nos em algumas passagens mais
típicas das suas cartas, escritas, segundo os exegetas, antes dos evangelhos.
Escreve bem Paulo, embora,
por vezes, de narrativa argumentativa confusa. Revela cultura, sobretudo
religiosa, e vontade de construir uma nova religião, afastando-se do
tradicional judaísmo que lhe servira de formação. Para tal, “usa” a figura do
judeu Jesus a quem os discípulos chamaram de Cristo, o Ungido de Deus, o
Messias prometido por Deus, no Antigo Testamento, texto que Paulo revela bem
conhecer.
Aos romanos, fala dos pagãos,
dos judeus, dos gregos:
– “Pretendendo ser sábios,
tornaram-se tolos, trocando a glória de Deus imortal por estátuas de homem
mortal, de pássaros, animais e répteis. Foi por isso que Deus os entregou… à
impureza com que desonram os seus próprios corpos…:suas mulheres mudaram a
relação natural em relação contra a natureza. Os homens fizeram o mesmo:
deixaram a relação natural com a mulher e arderam de paixão uns com os outros…
Estão cheios de toda a espécie de injustiça, perversidade, avidez e malícia…”
(1, 22-29)
– Não se percebe onde Paulo
foi buscar este argumento de que foi Deus que entregou os homens a estas
perversidades, pelo facto dos mesmos homens serem tolos e maus. Porquê Deus? Não sabia que os homens têm o seu livre arbítrio? Depois, isto de lésbicas e gays, afinal, parece estar dentro dos padrões de
excepção nas espécies animais; talvez uns 10% façam parte dessa excepção, não
sendo por isso pecado; pelo contrário: têm que viver com a situação hormonal
que lhes determina tais tendências, toda a vida, o que nem sempre será fácil
numa sociedade que tende, felizmente, para o normal; senão, acabar-se-ia a
espécie, coisa que a Natureza não permitiria.
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