Do direito a viver ao
dever de partir
Visitei, em solidariedade natalícia, um Lar de idosos.
Uns 60 utentes. Metade, em cadeira de rodas. Um quarto deles, completamente dependentes.
O outro quarto, ainda se movimentando e até saindo à rua, para ver o movimento
e o Sol. Dos dependentes, alguns acamados há vários anos: não morrem, apesar de
nada serem nem para eles nem para os outros; apenas corpos onde ainda bate um
coração e os pulmões ainda respiram, oxigenando o sangue que corre por aquele
corpo com vida, mas sem vida humana. Um desses utentes, uma mulher – os homens
morrem mais depressa!, diz-me a Directora – acamada há 11 anos! Uma vida
completamente inútil, um enorme fardo para a sociedade!
E eis-nos chegados ao ponto fulcral da questão: “Há o
direito a viver a qualquer custo, mesmo sem qualquer dignidade, pois de humano
já apenas se tem a forma…, ou o dever de partir e dar lugar a outros – outros
que sejam úteis a si próprios e à mesma sociedade – sem mais encargos sociais?”
É que esses oitentões, noventões, centenários já deram o seu contributo à
comunidade e já usufruíram dela também largo contributo recíproco. Agora, já
não são úteis nem para si nem para a comunidade onde se inserem. E o partir é
uma questão de dias, meses ou anos já que, como diz o ditado: “À morte ninguém
escapa, nem o rei nem o papa!” Então, porque se alimenta um corpo que já nem
uma alma sustenta?
Soluções!
(Não vale a pena fazer como fazem esses estudantes que
vêm para a rua bradar por medidas contra as alterações climáticas, fazendo
greve, em vez de irem estudar soluções que proporiam aos seus governos e a todo
o mundo, através das redes sociais para atingirem os objectivos que reclamam do
alto do seu bem-estar e da sua apetência para o consumismo: “Como reduzir o uso
de plásticos? Como limpar rapidamente os oceanos que deles estão infestados,
afectando toda a fauna e flora marinhas, que tanto alimento nos proporcionam?
Como reduzir/controlar a população mundial para que não cresça mais, já que é
espécie predadora de tudo o que comestível e a grande poluidora do ambiente?
Como basear a economia não no consumo desenfreado de coisas não essenciais,
produzindo enorme poluição, mas na produção e consumo dos bens essenciais? Como
manter, apesar disso – pois uma enormíssima parte do emprego está na produção e
venda de produtos não essenciais – o emprego, pois todo o Homem tem o
direito/dever de ter um trabalho com que se sinta realizado e útil à sociedade?
Etc., Etc., Etc.” - desculpem-me este aparte despropositado!)
Então, soluções, já que morrer é um acto normal da
Vida e um “acto” inevitável:
A – Promover, depois, obrigar todas as pessoas,
enquanto lúcidas, a declararem:
1 – Como querem/gostariam de morrer. Com ou sem
dignidade.
2 – Como querem ser tratadas quando, analisando os
vários estádios de velhice, facilmente catalogáveis, se encontrarem num desses
estádios:
2.1 – Corpo saudável mas mente completamente louca;
2.2 – Corpo com
várias limitações e mente completamente sã:
2.3 – Corpo completamente
dependente e mente ainda sã;
2.4 – Corpo completamente dependente e mente
completamente louca (último estádio da degradação de uma vida que já foi humana
mas já o não é).
B – Agir em conformidade com a declaração de cada um,
sendo esta acção executada por serviços públicos criados para o efeito, sem
intervenção de terceiros, sobretudo familiares. Escusado será dizer que as
formas de execução são fáceis de aplicar, com os novos fármacos existentes,
fármacos que atenuam dores e anestesiam alguma vida que possa existir em seres
que já foram humanos mas deixaram de o ser, embora ainda não tenham dado o último
suspiro, permitindo-lhes, assim, e satisfazendo a sua vontade, partir em paz,
em tranquilidade, sem sofrer, “voando” suavemente para a eternidade que a todos
nos espera…
Esses serviços públicos bem poderiam ter um nome simpático,
como OS ANJOS DE DEUS...
Sejamos realistas, caramba!
Que, aqui, a razão comande a emoção!
E Viva a VIDA, enquanto num corpo há vida humana digna!
A grande dificuldade colocar-se-á, obviamente, no momento da avaliação do estado do doente que originará a decisão da eutanásia. Serão sempre clarividentes, objectivos e isentos? Não cometerão erros irreversíveis, gerando desconfiança? - A haver uma lei - que terá de haver! - nela tentar-se-á reduzir ao mínimo possíveis erros humanos.
ResponderEliminarEu quisera, quando em estado terminal, que me ajudassem a partir, sem dor, sem stress, podendo ainda abrir os lábios num derradeiro sorriso, balbuciando ... "Adeus! Até sempre!".
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