À procura da VERDADE no
DEUTERONÓMIO - 3
com
o canibalismo antes referido, comendo pais e mães os próprios filhos,
ficamos
estupefactos ao ler: “E ainda mais: Javé lançará contra ti todas
as doenças e
pragas que não estão escritas neste livro da Lei, até que
sejas exterminado.
(…) Uma vez que não obedeceste a Javé teu Deus,
então do mesmo modo que Javé
tinha prazer em vos fazer o bem e vos
multiplicar, assim também terá prazer em
vos destruir e exterminar (…)”
(Dt 28,61-63).
- Ficamos sem palavras! Que Deus é este que tem prazer em fazer o bem
e…
em exterminar? Não é! Não é… DEUS! Simplesmente!…
- “(…) Javé disse a Moisés: O dia
da tua morte aproxima-se.” (Dt 31,14)
- É a vida, não é, grande Moisés! Também a tua tinha de ter um fim,
um
fim não ignorado pelo autor, não fosses tu o seu herói durante
todos estes
cinco livros, chamados Pentateuco!
- “Quando acabou de escrever num livro toda esta Lei, Moisés ordenou
aos
levitas (…): Tomai este livro da Lei e
colocai-o ao lado da arca
da aliança de Javé vosso Deus. Ele ficará ali como
testemunho contra
vós porque eu conheço bem o vosso espírito rebelde e a vossa
cabeça
dura. Se vos revoltais contra Javé enquanto ainda estou vivo, o que
acontecerá depois da minha morte?” (Dt 31,24-27) Então, do peito
inflamado
de Moisés, brotou o célebre “Cântico de Moisés”, onde, em
forma poética, revive
toda a história de Israel, povo escolhido e salvo
por Javé, Deus único - “Eu
sou Eu e fora e Mim não existe nenhum
outro Deus.” (Dt 32,39) - mas com as suas
múltiplas fraquezas, os seus
permanentes pecados…
Aqui, Moisés - ou o autor sagrado? ou simplesmente o autor? -
excede-se
na beleza de algumas formas literárias:
“Desça como chuva o meu ensinamento
e a minha palavra se espalhe como orvalho. (…)
Como a águia que cuida do seu ninho
e revoa por cima dos filhotes
Ele tomou-te, estendendo as suas asas
e levou-te sobre as suas penas. (Dt 32,2 e 11)
- E o grande Moisés - o único a falar face a face com Deus: “Em Israel,
nunca mais houve outro profeta como Moisés, a quem Javé conhecia
face a
face.”(Dt 34,10) - morre sem chegar à Terra Prometida:
“Porque me fostes
infiéis no meio dos israelitas, junto das águas de
Meriba em Cades, no deserto
de Sin, e não reconhecestes a minha
santidade no meio dos israelitas (…) por
isso, só a contemplarás de
longe (…)” (Dt 32,51-52)
- É estranho, não é? Porquê esta razão que parece tão mesquinha da
parte
de Javé para castigar assim um Moisés, seu intérprete junto
do povo, seu interlocutor
e mensageiro privilegiado?
- Mesquinha? Não! É sobretudo injusta, após todos aqueles discursos
inflamados para que o povo não se afastasse de Javé mas cumprisse
as suas leis.
Ou - mais uma vez! - não foi este o modo que o autor
encontrou para resolver a
morte natural de Moisés que, mesmo
sendo-se Moisés, não se pode durar sempre?
- Mas… são pormenores de análise que não interessam. O que importa
é que,
chegados ao fim de mais um livro, e ao fim da análise dos
primeiros cinco
livros da Bíblia – o Pentateuco – sentimo-nos
completamente frustrados por nada
termos neles encontrado de verdade
acerca do nosso fim último, rumo a uma
eternidade tão desejada e tão
pouco conhecida, eternidade num Céu ou num
Inferno que fosse – mas
eternidade! – sempre prometida pela religião que se
fundamenta nestes
textos ditos sagrados. É que nós, embora cientificamente
saibamos tal
ser impossível, pois quem nasce no Tempo pertence
irremediavelmente,
inexoravelmente ao Tempo, incongruentemente desejamos ser eternos,
ser uma espécie de semi-recta que começou num ponto, num dado
momento do tempo,
e se prolonga pela eternidade sem fim. Que insensatos,
santo Deus! Que
estultos, santo Javé desta famigerada Bíblia!
- Uma certeza nos fica, porém: foi grande, enorme, fantástica a
invenção/criação de um Javé, pelos estrategos político-religiosos do tempo,
a
começar por Moisés a quem são atribuídos estes cinco livros ou
Pentateuco. Foi
um Deus concebido exactamente à medida das
necessidades daquele povo que
procurava uma terra onde se instalar – a
Terra Prometida! – chacinando tudo
quanto se opusesse à sua conquista.
E tudo – quase sempre crimes dos mais
hediondos! – por ordem, vontade,
desejo deste Javé inventado. Aos estrategos
político- religiosos juntava-se,
neste conluio de invenção/criação, uma forte
classe sacerdotal que escrevia
os textos, inspirados – sempre!!! – pelo mesmo
Javé que haviam
inventado! Grande táctica, grande inteligência revelada, grande
astúcia e
sentido do poder sobre as massas incultas e predispostas à crença ou
à
crendice! Infelizmente, tal táctica, tal inteligência, tal astúcia perdura
nos nossos dias. E não é que o povo crente continua a deixar-se levar e
a
acreditar nos novos deuses que se vão criando? Desde o Pai de Jesus
Cristo ao
Alá de Maomé, ao dinheiro dos nossos corruptos políticos e
banqueiros que
cativaram o poder? E sempre revestidos de vestes
brancas, símbolo exterior da
sua total inocência perante as desgraças
que eles provocam no mundo dos vivos…
Ah, “querida” malfadada
Bíblia que só nos deste, até agora, maus exemplos da
convivência entre
os Homens!
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