Os teólogos comprometidos (engagés) têm forçosamente alguns conhecimentos de Filosofia – ou então serão “amadores”! – logo, conhecem o princípio cartesiano da “dúvida metódica” sobre qualquer afirmação que se faça. Isto é: nada pode ser afirmado sem que se possa perguntar: “Qual a prova, se possível avalizada pela prática, para que tal afirmação tenha credibilidade?” Ora, os teólogos comprometidos passam o tempo a estudar e a argumentar – na Idade Média, chamava-se a tal “arte”, Apologética – partindo de pressupostos que dizem inquestionáveis. Para as três religiões monoteístas, a base de tais estudos argumentativos está nos livros sagrados: Tora, Bíblia e Corão. Sagrados, logo – dizem – indiscutíveis, inquestionáveis! Mas basta uma análise mesmo superficial dos mesmos para constatarmos que nada de sacralidade eles têm nem muito menos merecem qualquer credibilidade. E isto, seja qual for a interpretação que deles se faça: literal/textual ou metafórica/alegórica. Pior: os teólogos misturam a seu belo prazer as duas, isto é, quando lhes convém, avaliam/interpretam os livros em sentido textual/literal; quando não lhes convém para os seus escusos intentos, isto é, quando o que se afirma em tais livros não só não é sagrado como é altamente degradante da racionalidade e dos sentimentos humanos (os exemplos são mais que muitos!), fazem apelo à metáfora ou alegoria ou... ao mistério. Esta uma outra monstruosa desonestidade intelectual. Monstruosa ou, se preferirem, tremendamente perversa: insultam a racionalidade humana e o espírito de busca de Verdade que deve orientar toda a actividade intelectual humana.
Portanto, os teólogos comprometidos incorrem num erro altamente grosseiro: trabalham sobre bases que não merecem credibilidade – nenhuma credibilidade! – porque nada, mas absolutamente nada prova que tais livros sejam sagrados, de origem divina ou livros da revelação de Deus aos Homens. Nada, absolutamente nada! Pelo contrário: Deus teria vergonha de ter inspirado tais textos e de ter deixado uma mensagem – que dizem de salvação para os Homens – tão confusa, tão díspar de livro para livro – sendo Ele, obviamente, o mesmo Deus – e tão cheia de desumanidades, de falsidades, de erros grosseiros, cientificamente falando. Mesmo, reportando-nos à época em que foram escritos. Uma vergonha! Os exemplos continuam a ser mais que muitos. Aliás, sendo livros de revelação divina e de função salvífica para o Homem, não deveriam ser de carácter universal, primando pela uniformidade, livres de interpretações, mas facilmente entendíveis por todos a quem se destinavam? Ou Deus é tão incompetente que não é capaz – ou não foi capaz! – de fazer uma revelação entendível por todos a quem ela se destinava, e em todos os tempos, em todos os lugares? E que revelação! Simplesmente a mais importante para a vida do Homem: a Verdade do seu pós-vida, ou vida além da morte!
Mas porquê tão grosseira desonestidade intelectual?
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