segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O Homem, o Tempo e o Transcendente (1/3)

Este tema foi abordado num dos últimos textos que, sabiamente, o Pe Anselmo Borges, meu antigo colega, professor na Universidade de Coimbra, publica, ao sábado, no DN, Opinião. Pela sua importância do ponto de vista filosófico-existencial, abordemo-lo também aqui. O Homem, afinal o que é? Ou, perguntando, classicamente e fulanizando: “Quem sou eu? Donde venho, o que faço aqui e para onde vou?” É a resposta a esta tríade que deveria preocupar todo o Homem, desde que toma consciência da sua existência, nos finais da puberdade, até ao termo dos seus dias. Aliás, deveria ser tema de educação escolar para que não se gerassem monstros humanos como os que governaram e governam o mundo (Veja-se o último texto no meu outro blog “Ideias-Novas”) E o Tempo? O que é o Tempo? Limita-se a um passado que já foi, a um futuro que ainda há-de ser e a um presente em contínua e inexorável mutação para o passado? E o Transcendente existe realmente ou é fruto da imaginação fértil do mesmo Homem? Precisemos: o Homem, reposta que foi a Verdade da sua origem, contra uma visão atávica da Bíblia, imposta ao mundo desde os primórdios do cristianismo, por Darwin, evoluindo do primata macaco..., é um ser que vive na Terra há cerca de quatro milhões de anos – o que não é nada em relação ao Tempo conhecido, tendo o Universo uns quinze mil milhões, o sistema solar, onde a Terra se integra, uns cinco mil milhões, o aparecimento da vida uns 3,5 mil milhões, os dinossauros uns duzentos milhões (tendo-se extinguido há c. de 65 milhões). Neste curto lapso do Tempo universal, o Homem só começa a ter realmente História, com o aparecimento do sapiens sapiens, que data de cerca de quarenta mil anos, pois, com ele, aparecem as primeiras civilizações, e é com essas civilizações que vêm as primeiras religiões, directamente ligadas ao culto dos mortos e aos elementos sentidos e vividos pelo Homem: terra, água, ar, Sol, o firmamento das estrelas. Ora, quarenta mil anos são nada em relação ao Tempo! E, se analisarmos a evolução da civilização, vemos que a História conhecida se caracteriza por altos e baixos, apogeus e quedas, vitórias e derrotas e, sobretudo, por muita estupidez manifestada na ganância, na inveja, na luta fratricida, para se roubarem uns aos outros os seus bens e deles usufruírem, sendo a guerra a melhor maneira de os alcançar, apesar do esforço e do sangue derramado. Fantástico Homem!... Bem vistas as coisas, hoje, apesar de toda a evolução tecnológica, toda a evolução da Ciência, ainda não saímos deste mísero estádio de estupidez suprema: vejam-se as guerras por todo o lado, os arsenais de armamento, as injustiças sem julgamento, as corrupções, os roubos e os ladrões e criminosos defendidos por bons advogados – advogados que serão tanto melhores quanto melhor conseguirem salvar da prisão e do cadafalso esses mesmos ladrões e criminosos! É! O Homem de hoje conseguiu criar uma sociedade desequilibrada, totalmente insustentável, totalmente injusta em que meia dúzia de espertos tem quase tudo e todos os outros têm quase nada, morrendo muitos deles – milhões! – de fome. E são esses espertos que governam o mundo, caramba! Voltaremos, no próximo texto, às clássicas perguntas: “Quem sou eu? Donde venho, o que faço aqui e para onde vou?”.

3 comentários:

  1. Eu sou afinal um simples operário emigrante na Holanda desde 1964 e já velhote (87anos)e sou ateu.Eu admito que haja quem creia em Deus,mas não posso admitir que haja quem se atreva a definir Deus e pior um pouco,a dizer que falou com êle(caso de Moisés)que disse ter recebido dêle,as Tábuas da Lei,isto é,os Dez Mandamentos dos biblico-judaico-cristãos.Ora se Deus é,como ensina a Igreja,um Ser com todos os seus predicados num grau infinito,não tem necessidade
    de coisa alguma.Então porque criou o Mundo e depois Adão e duma costela dêste fez Eva?Depois de os colocar no Paraíso Terreal,proibiu-os de comerem mo fruto da árvore da ciência do Bem e do Mal que afinal era uma macieira,ordem esta que Eva,tentada pelo Demónio disfarçado de serpente,comeu o fruto proibido e deu-o a Adão.
    Em consequência dêste pecado original,foram expulsos do Paraíso Terreal.Ora aqui Deus é afinal um Senhor absoluto,tirano e vingativo, defeitos inadmissíveis num Deus infinitamente perfeito.E no que respeita ao Demónio e ao Inferno,pois se Deus é o único Criador de tudo o que existe visível e invisível,segundo ensina a Igreja,foi êle que criou o Demónio e o Inferno
    o que é uma contradição,dado que Deus que é infinitamente perfeito não pode criar tais imperfeições.Depois se é imutável,porque se arrependeu de ter criado o Mundo e Homem e quiz destruí-los com um Dilúvio?E porque permaneceu
    irado com o pecado original e quiz que seu filho
    descesse à Terra para sofrer e morrer imolado na cruz como cordeiro de Deus,para remir o pecado original e desagravar a ira divina?!
    Que Deus é êsse assim tão mau/tão cruel,tirano e sanguinário/que se porta pior que um marau/ e mata o filho no Calvário?!
    Só posso tirar a conclusão de que um Deus cruel,
    tirano e sanguinário,só pode ter sido criado pelo Homem à sua imagem e semelhança e a respectiva Religião segundo os seus interêsses.

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    1. Amigo José Cravinho - permita-me a familiaridade - foi um gosto vê-lo dissertar do modo como o fez! Bastaria o seu texto para levar a Igreja católica, com todo o seu séquito de papa, cardeais, bispos, padres - mas as outras religiões portam-se de igual modo ou pior (veja-se a "guerra santa" do islão) - a pregar ao mundo o logro em que tem feito viver os crentes, pois tudo o que afirmam vindo de Deus, não é mais do que fruto da imaginação - quase sempre pérfida! - do Homem, ou de homens que se disseram iluminados por um qualquer Deus ou anjo ou outra entidade celestial,obviamente inexistente! A sua bonita idade permite-lhe ter o sentido crítico que falta a tantos, certamente por interesse em que não se levante "a lebre" da dúvida, pois lá se lhes ia o seu ganha-pão e a sua boa vida!!!
      Gostarei de vê-lo por aqui mais vezes. Espero não o decepcionar. Até sempre!

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  2. Olá Dr. Domingues!
    Grata pela visita, e pelas palavras bonitas que deixou no meu blog. Tenho andado adoentada, e sem paciência para esrever,por isso fui colocando uns videos "para não se esquecerem de mim..." Faço a ronda pelos blogues dos amigos,mas também não tenho comentado, daí pensar que eu não tenho aparecido por aqui.Gostei deste comentário do sr.Cravinho,também eu penso de forma semelhante, já escrevi nos mesmos termos (mais reduzido)um texto,acho que lhe dei o titulo Natureza em Fúria.
    Eu não sei qual o interesse de ministrar ás pessoas uma doutrina na qual se afirma que depois da morte há o céu. Mas o céu como? E ir para o céu fazer o quê? Para mim a morte é o fim, e por isso é mágoa ver partir os que me são queridos,sei que é inevitável, todos acabamos, mas não sou assim tão forte que encare de ânimo leve. Se fôssem para "o céu",nem havia tristeza, mas eu bem sei onde estão os meus pais. Entendo que as religiões deviam evoluir no sentido de encaminhar (educar) o ser humano para os bons costumes,promovendo o bem pelo bem porque é racional e assim deve ser, e não a acenar-lhes com a promessa do céu, ou na inversa o fogo do inferno.
    E por hoje,fim.
    Saudações.
    Dilita

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