terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A Eucaristia, mistério da Fé (4)

Ainda Paulo, na sua carta aos Efésios: «Vós que estáveis longe fostes trazidos para perto, graças ao sangue de Cristo. Cristo é a nossa paz. De dois povos, (judeus e gentios, supõe-se) ele fez um só. Na sua carne derrubou o muro da separação: o ódio». Há quem veja aqui uma referência paulina à eucaristia. Não nos parece ter relevância para o assunto. Passemos então a Marcos (Mc 14,22-25), escrevendo uns vinte anos depois de Paulo: “Então, enquanto comiam, Jesus tomou um pão e, tendo pronunciado a bênção, partiu-o, distribuiu-o aos discípulos e disse: «Tomai, isto é o meu corpo». Em seguida, tomou um cálice, deu graças e entregou-lho. E todos eles beberam. E Jesus disse-lhes: «Isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos. Eu vos garanto: nunca mais beberei do fruto da videira, até ao dia em que beberei o vinho novo no Reino de Deus».” E Marcos mais não disse. Nem o “Fazei isto em memória de mim”. Quem poderá deduzir deste facto que Jesus tenha instituído, naquele momento, a eucaristia, dando poder aos apóstolos – os primeiros padres – de o tornarem presente nas espécies do pão e do vinho, pronunciando, em tempos de ceia, aquelas palavras sobre o mesmo pão e o mesmo vinho? – Impossível! Só fantasiando... Aquele acto, aquelas palavras de Jesus nasceram naquele contexto e morreram naquele momento. Todas as ilações que se queiram tirar, para além disso, são puras invenções! Cronologicamente, segue-se Mateus, cujo texto será de uns dez anos posterior a Marcos (Mt 16,26-29): “Enquanto comiam, Jesus tomou um pão e, tendo pronunciado a bênção, partiu-o, distribuiu-o aos discípulos e disse: «Tomai e comei, isto é o meu corpo». Em seguida, tomou um cálice, deu graças e deu-lho, dizendo:«Bebei dele todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado em favor de muitos, para a remissão dos pecados. Eu digo-vos: de hoje em diante, não beberei deste produto da videira, até ao dia em que beberei do vinho novo convosco no reino de meu Pai». Como vemos, Mateus copia Marcos, quase ipsis verbis, não rematando também com o célebre “Fazei isto em memória de mim”. E, de igual modo, não há nada que aponte para o sacramento eucarístico cujo poder de o realizar foi outorgado, como afirma a Igreja, logo ali aos apóstolos e, depois, aos padres dos primeiros tempos ou dos tempos vindouros. Segue-se Lucas, mais uma dezena de anos depois de Mateus (Lc 22,17-20): “Então, Jesus tomou o cálice, agradeceu a Deus e disse: «Tomai e reparti entre vós; pois eu vos digo que nunca mais beberei do fruto da videira, até que venha o Reino de Deus». A seguir, Jesus tomou um pão, agradeceu a Deus, partiu-o e distribuiu-lho, dizendo: «Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em memória de mim». Depois da ceia, Jesus fez o mesmo com o cálice, dizendo: «Este cálice é a nova aliança do meu sangue que é derramado por vós».” Lucas, médico de Paulo, certamente conhecia a carta aos Coríntios e, como escreve depois de Marcos e Mateus, conheceria também estes, “cozinhando” tudo neste texto, onde repete a cena do cálice. Talvez fosse buscar o “Fazei isto em memória de mim” a Paulo. E cremos que não merece mais comentários. Lucas ainda se refere ao facto, nos Actos (Ac 2,42-46;20,7): “Eram perseverantes (...) na comunhão fraterna, no partir do pão e nas orações. (...) Diariamente, todos juntos frequentavam o Templo e, nas casas, partiam o pão, tomando alimento com alegria e simplicidade de coração”. “No primeiro dia da semana, estávamos reunidos para a fracção do pão.” Nada de novo, nada de eucaristia como renovação do sacrifício de Jesus na cruz! Mas, em Ac 20,8-12, narra-se o único, creio, milagre realizado por Paulo. Por caricato, como parênteses no assunto de que nos ocupamos, narrá-lo-emos no próximo texto, antes de passarmos a João com quem encerraremos esta pequena série sobre a invenção do Mistério Eucarístico. (Cont.)

2 comentários:

  1. A Eucaristia é um ritual simbólico. Também duvido que Jesus o tivesse idealizado ou outorgado aos apóstolos. Mas não é grave... que todos os "pecados" doutrinais fossem como este!

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  2. Pedro Miguel, a Eucaristia deveria ser um ritual simbólico, mas a Igreja faz acreditar aos fiéis que não é: é realmente o corpo e sangue de Crito que os fiéis tomam quando nela participam! Claro que o simbólico se aceita! Uma espécie de comemoração da última ceia de Jesus. Ah, como a Igreja tem de deixar de fazer mentecaptos os seus fiéis! Mas continua a dominar as consciências de mais de mil milhões! Salva-se, é claro, a parte social desenvolvida por muitos bons cristãos - Papa e o seu séquito excluídos! - trabalho que merece todo o nosso aplauso!

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