Um ponto de encontro para discutir o outro lado da vida, abordando, com toda a abertura de espírito, a sempre polémica dicotomia: Razão e Ciência versus Religião e Fé.
domingo, 4 de dezembro de 2011
A Eucaristia, mistério da Fé (3)
Comentando a primeira referência de Paulo à eucaristia, diríamos que, além de confusa, sofre, no mínimo, de arrogância e de dogmatismo, ameaçando ou condenando à doença e à morte os que não “ceiam” de acordo com os julgamentos de Deus.
A primeira afirmação é falsa ou, se quisermos, fruto da sua imaginação arrogante e megalómana: «De facto, eu recebi pessoalmente do Senhor aquilo que vos transmiti. Isto é, que o Senhor Jesus, na noite em que foi entregue, tomou o pão...» A informação do que se passou na última Ceia só pode ter-lhe chegado através dos apóstolos, apóstolos com os quais, sabe-se, teve uma difícil relação. A visão de que se arroga, quando, indo a caminho de Damasco para perseguir os cristãos, Jesus Cristo lhe aparece, dizendo “Salo, salo, porque me persegues?”, não merece qualquer credibilidade. Sabemos que era dado a ataques de epilepsia, o que explica na perfeição tal suposta “aparição”. Inteligente e curioso, saberia certamente o que os discípulos contavam de Jesus. Daí a “compor” a sua cristologia, neste caso, a eucaristia, não foi difícil, tudo encenando com a suposta visão, atribuindo-se a si próprio o epíteto de “apóstolo por excelência” por ter recebido directamente de Cristo a missão de o pregar, sobretudo aos gentios, e não só aos judeus, como parece terem pretendido os apóstolos e primeiros discípulos.
As conclusões que se seguem “Portanto... Por isso... Portanto... É por isso...” não se conectam umas com as outras, não sendo claras afirmações como o ser “réu do corpo e do sangue do Senhor” ou “aquele que come e bebe sem discernir o Corpo come e bebe a própria condenação”, bem como a terminação: “Assim, não vos reunireis para a vossa própria condenação”, após aconselhar cada um a comer em sua casa..., não se coibindo de atemorizar com a doença e a morte os que prevaricarem.
A propósito, merece honras de transcrição o comentário feito a estes versículos, na Bíblia que estamos usando, desconhecendo-se as fontes históricas para aquilo que o comentarista afirma: «O texto é o mais antigo testemunho sobre a eucaristia (...). No início, a celebração eucarística fazia-se depois de uma ceia, onde todos repartiam os alimentos que cada um levava. Em Corinto, surge um problema: nas celebrações, há divisão de classes sociais e de mentalidades diferentes. Muitos chegam atrasados, provavelmente porque trabalhavam e não encontram mais nada. Resultado: em vez de ser um testemunho de partilha, a celebração tornava-se lugar de ostentação, foco de discriminação (...). Neste contexto, Paulo relembra a instituição da eucaristia. Ela é a memória permanente da morte de Jesus como dom de vida para todos (corpo e sangue). A Eucaristia é a celebração da Nova Aliança, isto é, da nova humanidade que nasce da participação no acto de Jesus, não só no culto, mas na vida prática. Por isso, a comunidade que celebra a eucaristia anuncia o futuro de uma reunião de toda a humanidade. (...) Paulo já antes, na mesma carta, salientara que, ao participar na eucaristia, a comunidade forma um só corpo. (“O cálice da bênção que abençoamos não é comunhão com o sangue de Cristo? O pão que partimos não é comunhão com o corpo de Cristo? E como há um único pão, nós, embora muitos, somos um só corpo, pois participamos todos desse único pão”.) Se a comunidade não entender isso («sem discernir o Corpo»), estará a celebrar a sua própria condenação, pois desligará a eucaristia do seu antecedente e das suas consequências práticas: solidariedade e partilha. ...) A fraqueza, doença e morte de muitos membros testemunham a falta de partilha e de solidariedade. (...)»
Para não nos alongarmos, apenas diremos que tanto Paulo como, neste caso, o comentarista fazem uma confusa mistura entre o natural de uma ceia partilhada por uma comunidade e a dita eucaristia em que se “come” o corpo e se “bebe” o sangue de Cristo. Mas repare-se que Paulo nunca diz que, pronunciando as mágicas palavras sobre o pão e o vinho, estes se transformam realmente – como afirma a Igreja – no corpo e no sangue de Jesus Cristo. Tudo não passa, pois, do campo da simbologia! (Cont.)
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"Sabemos que era dado a ataques de epilepsia, "...
ResponderEliminarQuantos episódios de ataque de epilepsia é que o sr lhe conhece?
Caro Cisfranco,
ResponderEliminarCom a honestidade intelectual que procuro exercer nestes meus textos, devo confessar que não encontrei fundamentos credíveis, em várias obras consultadas, para se afirmar com certeza que Paulo sofria de epilepsia. Referi algo que me foi transmitido por tradição. Também não encontrei argumentos credíveis para que não sofresse desse mal. De qualquer modo, o facto não deve ser aproveitado para provar seja o que for. No entanto, recordo que a figura de Paulo é a mais controversa dos inícios do cristianismo, como é fácil constatar pelo seu legado e pelo seu modo de se afirmar e de actuar, largamente comentados, com críticas de uns, louvores de outros.
O sr não encontrou fundamentos, mas no entanto vai afirmando que ele era dado a ataques de epilepsia. E continua a dizer que está agindo com honestidade intelectual!...
ResponderEliminarQuem estiver de fora que avalie.
Está avaliado.
ResponderEliminarMuito obrigado pela "avaliação". Sinceramente! Mas gostaria que Cisfranco e Nuno se avaliassem também com honestidade intelectual. Mesmo não sendo fruto da epilepsia, a sua suposta visão de Cristo do qual recebeu directamente o mandato de o ir pregar aos gentios, considerando-se, por isso, apóstolo por excelência, manifestando algum desprezo pelos outros onze (Judas já havia entregue a alma ao Criador...) só poderá ter três interpretações: 1 - foi realmente milagre 2 - foi algo de estranho a nível físico, com óbvias implicações a nível psíquico, fenómeno que a epilpesia poderia explicar 3 - foi pura metáfora de uma realidade: ele ouvira as narrativas dos apóstolos sobre Jesus, lembrou-se que poderia a partir de Jesus, mas indo muito para além da sua mensagem, criar a sua própria cristologia, cristologia que seria desenvolvida muito mais tarde (c. 40 anos) por João, no seu evangelho, e meteu mãos à obra. Lembremos que o grande problema de todo o Credo católico está na passagem de Jesus a Jesus Cristo, tendo os primeiros fundadores usado de todas as artimanhas para conseguirem criar o mito "Cristo". Mas se os senhores acreditam em milagres, neste de Damasco como em todos os outros narrados nos evangelhos, não há muito por onde discutir ou aprofundar conhecimentos. Um conselho: tentem ser críticos da Fé e não meramente crentes! É difícil; como diz uma personagem de um livro meu ainda inédito: "A fé não se discute, aceita-se. Quem a discute perde-a irremediavelmente!"
ResponderEliminar"A fé não se discute, aceita-se. Quem a discute perde-a irremediavelmente!"
ResponderEliminarIsso não é assim. Pode até ser ao contrário. A discutissão destes assuntos, sobretudo a interpelação provocada pelos magotes de falácias e presunção que escorrem do recreio neoateísta, pode ser um vento nas brasas da Fé.
Oh Sr Dr Francisco Domingues! Mas que grande preconceito que o sr tem pra com a religião! Parece mesmo um trauma, desculpe.
ResponderEliminarA religião é como o sal na comida. O sr é um "apóstolo", um "pregador" de sinal contrário. Não aceita uma outra dimensão, só aquilo que comprova pela ciência e pelos seus raciocínios. O sr discorre, discorre, mas verdadeiramente, não apresenta um argumento que possamos discutir. Desculpe, o sr está a ser como o cirurgião que não acredita na existência da alma, porque durante toda uma vida nunca a encontrou na ponta do bisturi. Tudo é uma questão de atitude. A sua é muito redutora.Há muito mais realidade do que o que cabe nos seus raciocínios. Continue, mas não chegará a lado nenhum, sem sair do labirinto em que o sr se encontra.
E ainda lhe digo mais. Este seu blog "Em nome da Ciência" é um produto de publicidade enganosa e deixa muito mal a ciência, porque ciência mesmo não é nada disto. Aqui não há ciência nenhuma, apenas "pregação" que eu chamo de sinal contrário.