sábado, 13 de abril de 2013

Quem me chamou Jesus Cristo? O Menino Jesus existiu? (22/?)


   
Esta ideia do fim dos tempos, apelando a medos e temores, parecia ter algum fundamento, não real evidentemente, mas imaginado ou deduzido pelos manuseadores de números mágicos de então, e estava-lhe directamente associada a vinda de um Messias, de um Salvador, de um restaurador da pátria de Israel cuja independência estava mais uma vez amordaçada, naquele momento, pela ocupação romana. Os contornos, no entanto, de uma e outra ideia ninguém parecia entendê-los. Eram sobretudo os numerólogos que se dedicavam a rebuscar nas Escrituras datas e supostas profecias, chegando à douta conclusão de que existiam fortes coincidências apontando para um evento muito especial a acontecer exactamente naqueles tempos. Todos se inspiravam no mágico número referido no Livro de Daniel, ano 160 a.C., cap. 9: “Setenta semanas foram fixadas para o teu povo (...) consagrar um santíssimo”. (Um santíssimo seria sinónimo de um Messias, de um Cristo). Mas diziam os eruditos que a tradução do termo hebraico não deveria ser semanas mas septenários. Assim, multiplicando 70 por 7, encontrariam o número 490. Subtraindo 490 a 538, data do fim do cativeiro da Babilónia e do decreto de Ciro que, depois de conquistar a cidade, autorizou os cativos a voltarem à sua terra, os numerólogos obtinham 48, ano em que colocariam o aparecimento do Messias e o início do fim dos tempos. Outros, ainda mais engenhosos, diziam que os 490 anos se deviam subtrair da data do decreto de Artaxerxes, também referido na Bíblia, no sétimo ano do seu reinado, 458-457, obtendo-se assim o significativo ano 32-33 d.C., o auge da obsessão do povo judaico pela vinda de um Messias e do anunciado fim dos tempos.
    Afinal, o que aconteceu não foi nem o fim dos tempos, nem a vinda de um Messias Salvador da pátria de Israel ou a de um qualquer Reino de Deus, mas apenas, e tristemente para o povo judeu, a destruição de Jerusalém e do Templo pelo ano 70 (mais uma vez o número 70 a fazer as delícias dos numerólogos!) e, com a destruição desse símbolo de muitos séculos, o desmantelamento de Israel e a Diáspora dos judeus pelo mundo. Na verdade, aconteceu o fim dos tempos não do mundo e da espécie humana mas da existência de Israel como nação...
    Foi bastante antes deste “fim” anunciado, dada a situação de insurreição reinante entre o povo, que comecei a pregar e a ensinar. Primeiro, herdei os discípulos de João. Depois, eu próprio escolhi os meus discípulos, elegendo o número doze como símbolo mágico das doze tribos de Israel que certamente pretenderia restaurar, embora não soubesse nem quando, nem onde, nem como. É que eram tribos do já longínquo Israel dos tempos de Jacob, também chamado por Javé, Israel: “aquele que lutou com Deus”, e que tiveram origem nos seus doze filhos, desde o primogénito Rúben ao mais novo Benjamim, sendo Judá o terceiro e José, causador de insanáveis invejas entre os irmãos, por ser o preferido do pai, o penúltimo. Eu pensava, megalomanamente, na grande nação de Israel dos tempos de Abraão, Isaac e Jacob ou, já nos anos mil, na dos estrategas Moisés e Josué, desembocando nos florescentes reinados de David e Salomão! Tudo, no entanto, sonhos! Acompanhando-me no sonho, outros simpatizantes se me foram juntando, entre eles algumas carismáticas mulheres. E a vida eterna, de tanto agrado de Nicodemos, iria ocupar grande parte da minha pregação.

Sem comentários:

Enviar um comentário