segunda-feira, 21 de maio de 2012

Mês de Maio, mês de Maria, mês de Fátima (3/3)

Mas, afinal, Maria, quem foste, quem és tu? Partamos da História para a análise filosófica do fenómeno “Maria”. Ali, por Nazaré, nos finais do primeiro século a.C., de uma mãe, Ana, e de um pai, Joaquim, nasceu uma criança do sexo feminino a quem deram o nome de Maria. Ao criar-se a religião cristã, a partir dos meados do séc. I, com Paulo a ser o seu grande mentor, embora não dando relevo à mãe de Jesus, Maria, a quem parece nunca ter feito referência (aliás, Paulo continuava com a machismo bíblico, considerando as mulheres inaptas para a pregação e para a direcção do culto ou das assembleias – vejam-se as suas cartas), teve forçosamente de ser dada importância à mãe daquele que seria feito o Cristo, o Messias, o Ungido de Deus, melhor – ou o cúmulo?! – o Filho desse mesmo Deus, de seu nome terreno Jesus. Desde a antiguidade conhecida, a tradição religiosa, cheia de deuses que têm avassalado a História o Homem, sempre impôs que os seus deuses – ora antropomórficos, ora de origem astral, ora assumindo formas de animais – nascessem de Virgens. Ora, sendo Jesus, Filho de Deus e sendo ele filho de Maria, Maria teria de ser Virgem. Logo, Maria, passou naturalmente a Virgem Maria! Tal designativo perde-se no tempo da Tradição cristã, não se sabendo ao certo quando terá sido atribuído a Maria. Muitos, aliás, confundem a tradicional virgindade de Maria com a Imaculada Conceição, ou concepção, dogma proclamado pelo papa Pio IX, em 1854, anunciando ex-catedra, (todos os católicos tendo de acreditar sob pena de serem excomungados da Igreja, pois, assim falando, o papa é infalível - outro dogma, o da infalibilidade pontifícia, proclamado pelo Concílio Vaticano I, em 1870) que Maria nascera de sua mãe Ana – Sta Ana – sem trazer consigo o estigma do pecado original, não necessitando, por isso, de ser baptizada para retirar tal estigma... Do inconcebível e quase romântico pecado original, invenção dos autores bíblicos de c. 500 a.C., não falemos mais! Só é de admirar como se faz um dogma com obrigatoriedade de crença de algo inexistente, pois os seus intérpretes – Adão e Eva – simplesmente não existiram, não passando de figuras míticas e de fábulas, como de fábula se trata o Éden ou o Paraíso onde Deus os criou e “os fez homem e mulher”, com a árvore da sabedoria e a serpente a tentar a mulher, tentando esta, por sua vez, o “pobre” do Adão..., pois todos sabemos, desde Darwin, que a existência do Homem deu-se pela evolução das espécies e não por qualquer acto de Criação divina... Mais caricata é a fórmula usada pelo evangelista Lucas para começar a implementar tal opinião: Maria, prometida a José, apareceu grávida, não sabendo este o que fazer: se aceitá-la assim, se repudiá-la, vindo, então, um anjo explicar-lhe – explicou?!!! – que Maria estava grávida por obra e graça do Divino Espírito Santo. Ora José, naquela altura, nunca deveria ter pensado em tal ser divino que assim engravidara a sua prometida. Mas, enfim, justo e temente a Deus como parece ter sido, lá aceitou o veredicto. No entanto, depois daquele primeiro nado, teve com Maria vários outros filhos, como dão testemunho os evangelhos naquilo que de histórico ainda se pode retirar deles: “Estão ali a tua mãe e os teus irmãos que te querem falar...” (Mt 12,47) O facto de Maria aparecer grávida – Maria, certamente, uma moça bonita! – pode perfeitamente atribuir-se ao abuso de algum soldado romano – o exército invasor – pois, antigamente como hoje, os invasores sempre abusaram, sem pejo e sem dó nem piedade, dos seres mais fracos dos povos invadidos: as suas mulheres. Mas Maria passou Virgem para a História do cristianismo. E tantas foram as emoções que tão estranho suposto facto causou que Maria se tornou a maior vedeta de santuários e de onomástica jamais conhecida para um ser humano. Além de “Mãe dos Homens e Mãe de Deus, ou mãe da Terra e mãe do Céu”, quantos nomes tem ela por esse mundo religioso fora? Só em Portugal, serão centenas. Ignoro se há algum estudo para apurar tal onomástica. E não vale a pena referir exemplos. O nome mais bizarro, por estranho, que parece vir da Idade Média, é o da “Nossa Senhora do Ó”, referindo-se à sua “santa e miraculosa” gravidez. Maria! E Maria pode ser o nome da nossa mãe (certamente o nome mais comum de mulher, pelo menos, em Portugal) e foi o nome da mãe de Jesus. Simplesmente!...

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