Interrompemos o nosso diálogo sobre o Deus impossível das religiões para introduzir, na circunstância pascal que vivemos, o tema mais caro aos cristãos – a RESSURREIÇÃO – pois, no dizer correcto de Paulo, “Se Ele não ressuscitou é vã a nossa fé”.
Numa primeira abordagem, filosófica e científica, claramente se vê que a realidade dos factos desmente tal possibilidade concedida aos humanos, seja a ressurreição apenas da alma, seja a do corpo e alma, como defendem os mais fantasiosos ou mais românticos, ali, com carninha nova, todos como se tivéssemos vinte anos!... Os factos manifestam, porém, que não há nenhuma prova credível de qualquer ressurreição. Pelo contrário, constata-se que todos os que morreram e vão morrendo se integram na terra de onde afinal vieram, transformando-se, qual matéria inerte, em átomos e moléculas de outros seres vivos ou de matéria amorfa. A morte não é mais que o fim de um ser vivo – animais e plantas – ser que foi matéria impregnada de energia e que, quando a matéria deixou de ter as capacidades de se renovar, a energia – alma, se quiserem – libertou-se ou... apagou-se! Aliás, é o que acontecerá ao nosso Sol e o que acontece com todas as estrelas: nascem, vivem e... morrem! Mas a morte, nossa ou das estrelas, é apenas transformação. Pois, para onde poderia ir a matéria e a energia consumida se nada se pode escapar do espaço sideral?
O Homem não pode ter a presunção de ser excepção!
O conceito de ressurreição está directamente relacionado com o de imortalidade e de eternidade. Para se ser imortal ou eterno, a morte real, de algum modo, teria de ser aparente, uma passagem para o outro lado da... Vida! E não há dúvida de que todo o ser racional, por um instinto vital de sobrevivência mais agudo e pensado do que nos irracionais, não admite, sem estremecer, que, como eles, possa acabar sem deixar rasto ou sem se prolongar pelo não-tempo que é a eternidade. Então, todas as religiões, de uma ou de outra forma, fantasiaram tal possibilidade, conquistando com tal simpática e romântica fantasia, muitos adeptos.
Em próximos textos, analisaremos o mito da ressurreição na Bíblia do AT e do NT, onde a ressurreição de Jesus, a quem chamaram o Cristo, pontifica sobre todas as outras...